"Sou abençoada". Bolsas para estudantes dos PALOP e Timor-Leste mais que duplicam
A apresentação do Programa de Bolsas de Estudo para os estudantes dos PALOP e Timor-Leste, esta quarta-feira, juntou a ministra da Ciência e Ensino Superior, o ministro dos Negócios Estrangeiros e cinco antigos bolseiros que relataram o seu percurso académico, proporcionado pela instituição de Camões.
Corpo do artigo
"Eu queria pedir-vos para imaginarem o que é ser a primeira mulher de uma família carenciada de Moçambique com doutoramento. Imaginem a responsabilidade de inspirar novas gerações dos países PALOP. Sim, é possível", garantiu Adija Wilson, antiga bolseira, durante a apresentação do Programa de Bolsas de Estudo para Licenciatura, Mestrado e Doutoramento para os estudantes dos PALOP e Timor-Leste.
Adija admitiu que o seu percurso académico "sempre foi um desafio". A estudante de doutoramento realça que sempre dependeu de "ações de generosidade de instituições como Camões para ter acesso a ensino de qualidade".
"Ser mulher e moçambicana e ter acesso ao ensino superior é um desafio", admitiu a jovem, que está a tirar um doutoramento em Ciências da Sustentabilidade na Universidade de Lisboa.
"Sou abençoada por ter uma bolsa de Camões", conta Adija, acrescentando que as bolsas são uma "oportunidade para reduzir a assimetria entre as regiões urbanas e as de periferia". De acordo com a estudante, as intituições "favorecem as pessoas que estão nas grandes metrópoles", e o facto de ela própria ter recebido uma bolsa e não pertencer a essa zona de habitação, mostra que a instituição Camões "está a contrariar a corrente".
Número de bolsas mais que duplica
O número de bolsas atribuídas a estudantes do ensino superior dos PALOP e Timor-Leste vai aumentar neste ano letivo de 64 para 161, anunciaram ainda os ministros da Ciência e dos Negócios Estrangeiros, na apresentação do programa.
"Decidimos duplicar o número de novas bolsas de estudo para licenciaturas e mestrados; o contingente de bolsas de estudo deste ano passa de 64 para 161, mais do que duplica, e o contingente de bolsas para formação no ensino superior, no total, aumenta de 220 para 332, já neste ano letivo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Esta medida "beneficia do aumento, este ano, de 20 para 40 milhões da verba afeta a programas, projetos e ações de cooperação do instituto Camões, não só para os estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também de outros países na América Latina e da África Ocidental e Norte de África", salientou João Gomes Cravinho.
O Governo vai ainda aumentar o valor das bolsas, conforme tinha sido já anunciado pelo primeiro-ministro, em agosto, à margem da cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
"Vamos reforçar o montante das bolsas individuais atribuídas por bolseiro, na ordem dos 30%, válido para todos os bolseiros a frequentar licenciaturas, mestrados e doutoramentos já neste ano letivo, o que permitirá, em particular, fazer face à inflação, conferindo a estes estudantes deslocados dos seus países de origem, sem base de apoio familiar em Portugal, um apoio indispensável para prosseguirem os seus estados", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Reforço do número de mulheres bolseiras
A ministra da Ciência e Ensino Superior tinha afirmado, na abertura da cerimónia, que o reforço do número e do valor das bolsas "representa não só o reforço da cooperação", mas também o reforço das qualificações" dos estudantes lusófonos.
"Vamos reforçar o número de mulheres bolseiras, definido a observação da igualdade de género na atribuição do número de bolsas, e vamos criar uma rede de antigos bolseiros, que integre profissionais e investigadores científicos, para criar uma bolsa de mentores para ajudar os estudantes mais novos", anunciou ainda Elvira Fortunato.
Na cerimónia, Gomes Cravinho respondeu ainda a algumas críticas sobre as dificuldades na obtenção de vistos de estudo, salientando que esse tema será prioritário. Tal com o JN já tinha noticiado, os estudantes queixam-se dos atrasos na emissão dos vistos de residência, que em muitos casos ultrapassa os 120 dias, deixando-os numa situação ilegal.
"Estamos a dar prioridade aos vistos de estudo, que têm sido fator de complicação para os jovens; temos de dar uma resposta célere nos postos consulares para estudantes e é isso que temos vindo a fazer; até 25 de setembro foram emitidos 8848 vistos de estudo para os PALOP e Timor-Leste, o que representa um aumento de 80% face ao ano anterior, e comparativamente com 2019, antes da pandemia, foram emitidos quatro vezes mais, portanto o problema está em vias de ser resolvido", concluiu.