Estudo desenvolvido pelo Centro para o Controlo Global do Tabaco da Universidade de Harvard conclui que a pirazina, usada para garantir um sabor mais suave aos cigarros, que tem sido utilizada pelos modelos light e agora nos cigarros electrónicos, causa dependência.
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Portanto, a nicotina não está sozinha na criação da dependência do tabaco. O ingrediente chave dos cigarros light e dos cigarros electrónicos, chamada pirazina, contribui isoladamente ou em conjunto com a nicotina para que o tabaco vicie.
"As pirazinas parecem fazer o produto mais atractivo, facilitando a iniciação tabágica (...) e sendo mais provável que alguém tenha uma recaída depois de ter deixado de fumar", referem os autores do estudo, coordenado por Gregory Connolly, director do Centro para o Controlo Global do Tabaco da Universidade de Harvard, Estados Unidos.
Os investigadores repararam que não bastava continuar a consumir nicotina através de pastilhas para deixar de fumar e que deveria então existir outros compostos responsáveis por tal habituação.
Os investigadores analisaram documentos que foram divulgados em 1990, na sequência de processos judiciais, e descobriram que, quando a indústria do tabaco, pressionada pela opinião pública, foi retirando parte do alcatrão dos cigarros, deu-se conta que o tabaco perdia sabor e se tornava menos apetecível. E foi nesse contecto que começaram a introduzir os sabores.
Os documentos revelados pela equipa de Harvard indicam que a Philip Morris se empenhou em encontrar uma mistura a que chamaram "supersumo", que depois deu origem ao primeiro cigarro light lançado pela empresa. Três dos cinco componentes do "supersumo" eram pirazinas.
O efeito falacioso destas substâncias também é apontado. Permitindo uma inalação mais suave, sem causar irritação, cria a sensação de causar menos danos à saúde.
Utilizando estes argumentos, os autores do estudo pediram à ONU e às agências responsáveis pela saúde dos Estados Unidos e União Europeia para regularem também o uso da pirazina.
Nos Estados Unidos, a reguladora do medicamento baniu o uso de aditivos que criem sensação de sabor dos cigarros, especificamente do doce e do amargo. Em Portugal, a revisão da lei do tabaco, que já foi aprovada pelo Conselho de Ministros, prevê a proibição de aditivos que façam sobressair os aromas e proíbe a sua inclusão em produtos de tabaco cujo volume de vendas seja superior a 3%, de que é exemplo o mentol, tendo a sua aplicação um regime transitório estabelecido até 20 de maio de 2020.
A legislação nacional vai transpor a directiva europeia sobre a matéria. O novo diploma vai ainda proibir o consumo de cigarros electrónicos com nicotina dos espaços fechados, partilhando estes as regras dos tradicionais.