À boleia de “uma estratégia de marketing” que assenta na redução do risco, os fumadores de tabaco aquecido estão a voltar a hábitos antigos, como fumar dentro de casa ou nos carros e na presença de menores.
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Num momento de “estagnação das políticas antitabágicas” no país, a “renormalização do consumo” é o maior perigo destas novas formas de tabaco que estão a entrar em força no mercado, em particular entre os jovens.
O alerta é de Daniel Coutinho, coordenador da Comisão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP). “Vejo muita gente que já não fumava em casa e voltou a fazê-lo com o tabaco aquecido e na presença de filhos menores”, realça Daniel Coutinho, preocupado com o regresso de comportamentos que tinham sido erradicados com a consciencialização dos malefícios do tabaco tradicional.
A alteração dos comportamentos surge sustentada numa mensagem que a indústria do tabaco quis passar, mas que está longe de ser provada, de que estes produtos fazem menos mal. “Ainda não passou tempo suficiente [desde que entraram no mercado] para provar que reduzem riscos para a saúde”, alega o pneumologista.
Além da mensagem de redução do risco, o facto de os novos produtos não deixarem cheiro (ou pelo menos não tão intenso) leva “a uma reintrodução do consumo em locais onde não deveria acontecer”, agravando o risco sobre os fumadores passivos, e também a novos consumos entre os mais jovens, seduzidos pelos dispositivos, acrescenta Daniel Coutinho.
Discutir políticas
Face aos riscos, defende, urge voltar a pôr em cima da mesa o tema das políticas antitabágicas, que nasceu e morreu na anterior legislatura. O Governo de António Costa tentou introduzir novas restrições ao consumo – nas esplanadas, nas estações de transportes públicos, nos recintos escolares e hospitalares – e à venda – em restaurantes, bares, recintos de espetáculos e bombas de gasolina, entre outros. Com muita polémica e pressões de vários quadrantes, a proposta acabou por cair, tendo o Parlamento aprovado apenas a transposição da diretiva da União Europeia que equipara os cigarros eletrónicos ao tabaco tradicional.