Ao longo dos anos, projeto da Lipor distribuiu apoios que superaram os 600 mil euros. Nem a pandemia pôs travão.
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Um ex-militar das Forças Armadas que teve de amputar as duas pernas devido a uma grave infeção transmitida por uma bactéria, durante uma campanha em África, foi uma das 59 pessoas e entidades contempladas com equipamentos ortopédicos adquiridos com a receita que a Lipor conseguiu através da recolha de tampinhas de plástico.
Os resultados da operação dos anos 2020 e 2021 foram apresentados na segunda-feira, tendo sido acumuladas neste período afetado pela pandemia 93 toneladas, que resultaram numa receita de 40 mil euros para doações em materiais a instituições e particulares. Nas 17 fases do projeto, que nasceu em 2006, já foram apoiadas 658 entidades e pessoas, que viram melhoradas as suas condições de vida.
"Julgávamos que devido ao facto das pessoas estarem em confinamento o número de tampinhas doadas fosse diminuir, mas tal não aconteceu", salienta Rita Rebelo, técnica superior de comunicação e responsável pela iniciativa da Lipor - Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto.
Na memória
Ao longo dos anos, muitas histórias ficaram na memória pelo drama ou pelo movimento popular e voluntário gerado em torno de uma ajuda. "Lembro-me de uma idosa de Vila do Conde que estava num lar e que precisava de uma cadeira de rodas para se sentar porque tinham-lhe amputado uma perna. A cadeira teve de ser adaptada, com uma travesseira e uma pequena pala para o resto da perna. Mais tarde, recebemos uma foto da senhora sentada nela e a sorrir", recorda Rita Rebelo.
Noutro caso, foi ajudada uma menina com paralisia cerebral, institucionalizada em Viana do Castelo, que não conseguia sentar-se. Através da operação, encontrou-se uma cadeira capaz de a ajudar a manter-se sentada à mesa ou na sala de estudo, juntamente com outras crianças.
Já o caso de Carlos Manuel Sá, de 54 anos, surgiu através da Cerciespinho, instituição da qual é utente.
A Cerciespinho faz uma hora de apoio na habitação social onde Carlos Sá reside e "foi através da nossa instituição que se realizou a candidatura", refere Liliana Couto que, com Patrícia Lopes, esteve na Lipor para receber o certificado do equipamento.
Rejeitou prótese
Carlos esteve anos com a bactéria alojada até ela se manifestar há alguns anos. Foi bombeiro e nadador-salvador e a infeção acabou por afetar a estrutura óssea das pernas, que foram amputadas. Chegou a usar uma prótese, que foi rejeitada devido às feridas geradas nos cotos. Tem uma cadeira manual que lhe exige grande esforço. Agora, vai receber uma cadeira elétrica.
A Operação Tampinhas - "Um gesto. Duas causas" já beneficiou, desde 2006, centenas de entidades e distribuiu 1816 equipamentos, avaliados em mais de 600 mil euros.
Ontem, pessoas e instituições de todo o país receberam ajuda. A Santa Casa da Misericórdia de Bragança, os Bombeiros Voluntários de Valbom e a Federação Académica do Porto estão entre as entidades apoiadas.
Pormenores
Reciclagem
Com o projeto Operação Tampinhas, a Lipor recebe as tampas de plástico, entregando-as para reciclagem e utilizando o valor de venda na doação de equipamentos médicos, ortopédicos ou similares.
Onde entregar
As tampinhas podem ser entregues por particulares, instituições ou empresas nas instalações da Lipor, em Baguim do Monte, ou em pontos espalhados nos diversos concelhos associados à empresa.
500 mil toneladas
A Lipor trata anualmente cerca de 500 mil toneladas de resíduos urbanos, produzidos por um milhão de habitantes, fazendo a valorização multimaterial, orgânica e energética, complementada com aterro.