Mais do que a proximidade do verão, a pandemia levou os portugueses a olharem de forma diferente para o rosto e corpo e a recorrerem às cirurgias estéticas para os melhorar.
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Cirurgiões plásticos ouvidos pelo JN contaram que, na primeira vaga, quando toda a atividade não urgente foi cancelada, também tiveram de estar parados. Mas, a pouco e pouco, os doentes foram perdendo o receio das infeções por SARS-CoV-2 e a procura pelas intervenções estéticas regressou. Quer para procedimentos mais invasivos quer para pequenos retoques.
"Logo que as medidas começaram a ser levantadas, sentimos mais confiança. As pessoas voltaram ainda mais motivadas e com mais vontade de cuidar do corpo e da pele", revelou Luísa Magalhães Ramos. O facto do tempo passado em teletrabalho "permitir uma recuperação sem necessidade de gozar férias e longe de olhares indiscretos" aumentou a procura dos tratamentos.
Na opinião da especialista, a pandemia trouxe novas tendências, alterou rotinas e formas de trabalho na atividade privada. "Na área da cirurgia plástica, fala-se no fenómeno do "zoom boom": Ao passarmos mais tempos em casa e em reuniões frequentes por videoconferência, acabámos por estar em contacto constante com a nossa imagem, o que alterou a nossa perceção e evidenciou "problemas" que antes passavam despercebidos". Da sua experiência relatou que "o interesse em procedimentos faciais, como a blefaroplastia, rinoplastia e lifting facial, aumentou consideravelmente".
David Rasteiro partilha da opinião, mas sublinhou que também houve quem tivesse tido "algum tempo para meditar e perceber que às vezes precisam de coisas mais efetivas". Como "estão em teletrabalho e não tão expostas do ponto de vista social", as pessoas conseguem estar durante algum tempo recolhidas e optam "por procedimentos que outrora não tinham tempo e que lhes fazia falta". O médico adiantou ainda que apesar de continuarem a "gostar de procedimentos menos invasivos", esta foi também a altura de os utentes optarem por "coisas um bocadinho mais efetivas e com resultados superiores".
50% da atividade de 2019
Já Luiz Toledo relatou ter havido alterações no tipo de intervenções mais procuradas. "Muito mais lipoaspiração para retirar gordura localizada e cirurgias de pálpebras". O médico disse ainda estar agora a desempenhar 50% da atividade de 2019 nas cirurgias estéticas, uma vez que as reparadoras "sempre puderam ser realizadas".
Álvaro Silva, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, defendeu, por seu lado, não considerar que houve alterações na forma como os portugueses olham para o corpo. "Há uma certa dificuldade por causa do uso de máscara. As pessoas estão menos expostas e talvez procurem menos procedimentos na face. Por outro lado, talvez aproveitem para fazer algum tipo de procedimentos minimamente invasivos, como botox ou ácido hialurónico".
Mamas e contorno do corpo
Nas mulheres, explicou David Rasteiro, as áreas do corpo que são mais alvo de intervenção continuam a ser as mamas e o contorno corporal. "Após uma gravidez ou uma perda de peso maior, das alterações corporais que resultam da passagem do tempo e dos eventos que a nossa vida tem, as pessoas optam por fazer cirurgias abdominais conjuntamente com alterações do glúteo, fazer uma remodelação séria".
"Muita gente comeu demais e fez pouco exercício durante o confinamento e acabou por engordar. Ficar em casa deixou as pessoas mais relaxadas. E como as máscaras cobriam parte do rosto, muita gente percebeu então a necessidade de rejuvenescer a área ao redor dos olhos", prosseguiu Luiz Toledo. E se até aqui as cirurgias que diminuíram na sua prática foram as de zonas que estavam "cobertas por roupa", mais recentemente, "com as vacinas e a chegada do verão, houve um aumento das cirurgias corporais para se poder ir à praia com confiança".
Mas as estações do ano, na opinião de David Rasteiro, já não condicionam tanto as intervenções. A proximidade do verão "é sempre uma altura que tem alguma procura", mas também há pessoas a fazerem férias fora do país nos meses de inverno. "Todos os momentos têm uma justificação. Umas fazem no verão porque têm férias, outras no Natal porque consideram um presente".
No início da pandemia, o médico começou a realizar teleconsultas e faz um balanço positivo da iniciativa, que é para manter. Se, por um lado, houve pacientes que ganharam coragem para fazer uma consulta de cirurgia estética, por ser à distância, a medida permitiu-lhe também contactar com portugueses pelo Mundo que "preferem ser tratados no seu país, por pessoas que falam a sua língua".
Outros dados
Homens procuram definição abdominal
A definição da zona abdominal tem sido das cirurgias plásticas mais procuradas pelos homens. Mas também há quem tente corrigir o aumento da glândula mamária, explicou David Rasteiro.
Métodos menos invasivos
Segundo Luísa Magalhães Ramos, a procura por métodos minimamente invasivos é "crescente". Além da aplicação de botox, ácido hialurónico, peelings e mesoterapias, os cirurgiões também estão a ser chamados para aumentos dos lábios e maçãs do rosto e remodelação do nariz e queixo, entre outros procedimentos.