Isabel Bernardes sempre deu mais horas às empresas por onde passou. Tem dificuldade em parar.
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Isabel Bernardes, 53 anos, tem consciência que dedica muitas horas ao trabalho, porque vive sozinha. Contudo, em 2010, quando morou em Marrocos, resgatou uma gata da rua, que se deitava em cima do teclado quando achava que ela estava a trabalhar de mais.
"Tinha mesmo de parar. Não havia hipótese, porque a Lucky queria que lhe desse atenção", recorda Isabel Bernardes. "Quando estamos em casa, os horários não se cumprem. Como estamos concentrados, há tendência para nos esquecermos das horas e trabalharmos mais", assegura.
Quadro superior de uma empresa dinamarquesa, que desenvolve máquinas para reciclagem destinadas aos setores dos plásticos e dos moldes, desloca-se de comboio entre São Martinho do Porto, Alcobaça, onde vive, e Leiria, onde trabalha sozinha num edifício, porque o último comboio a obriga a regressar a casa às 18.11 horas.
Mas a tentativa de impor a si mesma um horário não tem resultado, pois chega a trabalhar até às 22 horas. "O problema é que, quando chego a casa, ligo o computador e lá vão mais umas horinhas", confessa Isabel Bernardes. "Já quando estamos no mesmo local com outras pessoas, percebemos que é hora de sair e que o dia de trabalho acabou".
Sem compensações
Licenciada em Gestão de Empresas, Isabel Bernardes começou a trabalhar a partir de casa em 2004. A juntar a esta particularidade pouco comum na época, viveu em Espanha, Itália, México, Brasil, Marrocos e Dinamarca, onde exerceu diversos cargos à distância para empresas internacionais ou com sede em Portugal.
Desde que trabalha na área do marketing para uma empresa dinamarquesa, que mudou a sede do Porto para Leiria, há um ano, por ser a cidade onde vive o engenheiro que desenvolve as máquinas de reciclagem, nunca foi compensada pelo "aumento significativo" das despesas de eletricidade, nem por trabalhar mais horas ou até fora de horas.
"Temos clientes em países sul-americanos e na Indonésia, em que a diferença horária é muito grande, mas há coisas que têm de ser feitas no momento", explica Isabel Bernardes. Apesar de trabalhar vários dias a partir de casa, arranja-se como se fosse para o escritório, mesmo quando não tem reuniões online. "Não ando vestida de fato de treino ou de pijama."
Mas se dedicar horas a mais à empresa não lhe traz qualquer benefício financeiro adicional, tem a vantagem de não ser penalizada, se tiver de sair para tratar de assuntos pessoais durante o horário de trabalho. Além disso, tem 25 dias de férias, apesar de os dinamarqueses reclamarem por Portugal ter muitos feriados.