Linha de apoio recebeu 218 apelos de 1 a 23 de abril. Mais 66% do que em 2019.
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De 1 a 23 de abril deste ano, a linha SOS Criança, promovida pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC), recebeu 218 apelos de crianças, adultos e instituições. Este número representa um aumento de 66% em relação ao total do mês de 2019, altura em que foram registados 131.
Quando as medidas de confinamento foram anunciadas, a linha passou a funcionar até às 21 horas e recentemente, além do número telefónico gratuito, está também acessível através da aplicação WhatsApp. Manuel Coutinho, secretário-geral do IAC e coordenador do SOS Criança, adiantou ao JN que dos 218 apelos, 161 chegaram por telefone, 48 por WhatsApp e nove por email.
"Sente-se que há um aumento da tensão intrafamiliar. As pessoas estão a ficar um bocadinho saturadas umas das outras", explicou, acrescentando que muitas vezes essa tensão também está associada a quadros de alcoolismo e de perturbação psiquiátrica. "Nem todas as pessoas têm o espaço de que necessitam" devido ao confinamento.
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A principal problemática prende-se com crianças em situação de risco, mas ainda não em perigo. É quando "o ambiente que está à volta da criança já precisa de ter uma intervenção para que não se torne numa situação de perigo", explicou.
"Temos depois casos de jovens que telefonam para falar ou desabafar com alguém, maus-tratos físicos e psicológicos na família, situações de negligência", prosseguiu. A linha recebe ainda muitos pedidos de informações gerais, desde questões do namoro, saúde mental, e também dúvidas sobre a Covid-19". Todos estes apelos "podem demorar cinco minutos ou uma hora", prosseguiu o psicólogo clínico. Se muitas das questões são resolvidas pelos profissionais que operam a linha, há outros casos em que a gravidade obriga ao encaminhamento para os parceiros, como as comissões de proteção de crianças e jovens, Polícia, hospitais e bombeiros.
Da ansiedade ao suicídio
Manuel Coutinho destaca que a linha, a funcionar desde 1988, é considerada "por todas as pessoas um serviço de primeira necessidade, porque dá voz à criança diretamente". E tem do outro lado do telefone um grupo de 11 psicólogos "na linha da frente" que ajudam a trabalhar a saúde mental dos mais novos.
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"O dia a dia é um pulsar muito engraçado. O SOS não é só para crianças em risco, em perigo ou maltratadas. É um serviço que aposta na saúde mental." Os profissionais trabalham a ansiedade, a angústia, as depressões, as dúvidas existenciais ou a ideação suicida nos mais novos. "As questões são muitíssimas", disse.