Natal marca viragem na desaceleração da curva. Passamos os 500 casos por cem mil habitantes. Fator R acima de 1.
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Portugal entrou, já na terceira vaga da pandemia. Com duas evidências e tendências a confirmá-lo.
Primeiro, o fator R - indicador que mede a força de transmissibilidade do vírus - inverteu a descida e está acima de 1. Segundo, a incidência de novos casos por 100 mil habitantes está, novamente, acima dos 500. Isso mesmo explica, ao JN, o matemático Carlos Antunes, que aponta o início da terceira vaga para a semana de 23 a 27 de dezembro.
As explicações estão, por um lado, numa maior mobilidade e, por outro, numa menor testagem e rastreamento na época natalícia. "Antes da semana do Natal, estávamos a detetar 25 mil novos casos/semana e, no Natal, só 20 mil. Agora, estamos nos 30 mil", precisa o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ou seja, "um défice de cinco mil não detetados, por menor testagem, e que criaram cadeias de transmissão". Cadeias essas em semanas de maior mobilidade, facilitando o contágio.
A semana de Natal, marca, assim, a viragem na desaceleração da curva. Os cálculos são de Carlos Antunes, que está a apoiar o epidemiologista Carmo Gomes, membro da "task force" criada pelo Governo para combater a pandemia.
Viragem que se espelha em números de positividade. Há 15 dias, explica, por cada 40 mil testes diários, tínhamos cerca de quatro mil positivos. Agora, temos seis mil. Fazendo com que a percentagem de positividade passasse dos 9%, em média, na semana do Natal, para, presentemente, os 13,5%. Ou seja, temos mais novos casos, não por estarmos a testar mais, mas porque temos mais positivos.
E com tendência ascendente. A 29 de dezembro, apurava-se uma positividade de 14% e, no dia seguinte, já estava nos 18%. Tudo somado, Portugal está, outra vez, com mais de 500 novos casos a 14 dias por 100 mil habitantes. Dos 448 passou, agora, para os 520, revela Carlos Antunes.
Multiplicação do vírus
Chama-se fator R e é determinante na análise de como a pandemia vai evoluir, porque nos revela o número médio de casos secundários que resultam de uma pessoa infetada. Há mais de um mês que estava abaixo de 1, mas, os cálculos do professor da Faculdade de Ciências colocam-no, agora, nos 1,08 (média dos últimos cinco dias: 27 a 31 de dezembro). Ou seja, cada infetado gera, agora, 1,08 novos casos.
Estabilizados estão os números de internamentos e de óbitos. Que deverão voltar a subir a manter-se o aumento de novas infeções. E porque, entre um teste positivo e um internamento e óbito é preciso decorrerem duas a três semanas, a estabilização a que agora assistimos resulta da desaceleração da curva naquele período, quando Portugal tinha cerca de 4000 novos casos diários. Isto para dizer, explica Carlos Antunes, que os óbitos, agora numa média de 70/dia, "porventura, já não baixam mais".
Contudo, "daqui a duas semanas podem subir, tal como os internamentos". Pelas projeções, podemos chegar, ao final da próxima semana, com uma média diária de 6300 a 6500 novas infeções e com 488 internados nas Unidades de Cuidados Intensivos.
Pormenores
Vacinação - A vacinação nos lares, no continente, arranca depois de amanhã em 25 concelhos de alto risco. A meta é imunizar 12 mil idosos e profissionais em quatro dias. Nos Açores, já começou.
Moderna - O Comité de Peritos da Agência Europeia do Medicamento reúne-se no próximo dia 6 para, ao que tudo indica, dar luz verde à introdução no mercado da vacina da Moderna. Até agora validou apenas a da Pfizer/BioNTech. Quanto à da Oxford/AstraZeneca, solicitou à empresa mais dados científicos.
67,6% - Mais de dois terços dos óbitos por covid são de pessoas com mais de 80 anos. Dezembro é o mês com mais mortes: 34,8% do total. Portugal ultrapassou a barreira das sete mil mortes.
14,3% - De acordo com os estudos de Carlos Antunes, a mortalidade em 2020 foi superior em 14,3% à média de 2009-2019 e em 9,4% à de 2018/2019.