No ano passado morreram mais de 124 mil pessoas, apenas menos 448 face ao fatídico 2021. É preciso recuar a 1942 para encontrar mortalidade superior.
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A evolução diária da mortalidade em Portugal já o assinalava. Faltava apenas saber se o ano que agora encerrámos seria pior do que o fatídico 2021. Não o ultrapassa, mas por pouco mais de 400 óbitos. De acordo com os dados provisórios do eVM - sistema de vigilância da mortalidade em tempo real que analisa os certificados de óbito, em constante atualização -, no ano passado registaram-se 124.783 óbitos, menos 448 face a 2021 e mais 1040 face a 2020. São três anos consecutivos, marcados pela pandemia, acima dos 120 mil óbitos. Cifra pior só em 1942, quando os registos do Instituto Nacional de Estatística dão conta de mais de 126 mil mortes no nosso país.
Num ano em que apenas em três meses os óbitos mensais não ficaram acima dos 10 mil, respetivamente agosto, setembro e outubro. Num ano em que em 40% dos dias se registou excesso de mortalidade. Foram 146 dias com óbitos a mais face ao esperado, contra 104 em 2021. Cruzando com os dados da Direção-Geral da Saúde, verifica-se que no ano passado, até ao dia 27, o país registava 6790 óbitos por covid. Ou seja, 5,5% das mortes por todas as causas no período em análise. Valor que contrasta com 2021, com 11990 mortes atribuídas à covid, representando 9,7% do total de óbitos.
Recorde-se que, em 2021, Portugal viveu a pior de todas as vagas da pandemia. Só em janeiro daquele ano, morreram no nosso país quase 20 mil pessoas, mais oito mil do que no mesmo mês do ano passado. Com a covid a responder por 5805 óbitos e 20 de janeiro a ficar nos registos: naquele dia, morreram em Portugal 748 pessoas.
O Ministério da Saúde, recorde-se, anunciou já um "estudo aprofundado" sobre a mortalidade em Portugal, desconhecendo-se, para já, quaisquer resultados. Concretamente para perceber as razões de picos de mortalidade registados nestes anos pandémicos que não encontram a sua explicação nem na covid, nem nas vagas de calor ou de frio.