Grupos de Ajuda Mútua promovidos pela associação Portugal AVC em 12 locais do país ajudam a combater o isolamento de sobreviventes e cuidadores.
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Frederico Augusto não se lembra do dia em que sofreu o AVC. Sabe apenas o que lhe contaram. Era março de 2015, tinha 24 anos e casado no dia anterior. Foi a mulher quem o encontrou caído no chão do quarto. Seguiram-se dez dias em coma, seis meses internado e vários anos de reabilitação. As sequelas ainda persistem no falar e andar. A história de Frederico é conhecida pelos que frequentam o Grupo de Ajuda Mútua do Porto, do qual é um dos dinamizadores. Na última sexta-feira de cada mês, sobreviventes e cuidadores juntam-se para trocar experiências e combater o isolamento. O cenário repete-se noutras zonas do país.
Em Portugal, há 12 grupos de Ajuda Mútua dinamizados pela associação Portugal AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos. Mas há novos grupos a ser criados. Em maio, o apoio chegará a Aveiro e Leiria. Estima-se que mais de 600 pessoas já tenham passado por estes grupos.
No Porto, o Grupo de Ajuda Mútua reúne-se no Hospital da Prelada. Serve de apoio a todos os que necessitam de ajuda e respostas a dúvidas sobre tratamentos ou como adaptar uma casa, tornando-a acessível para acolher um sobrevivente. É ainda um palco para a troca de testemunhos entre doentes e cuidadores. Hoje, celebra-se o Dia Nacional do Doente com AVC.
Combater isolamento
"O nosso principal objetivo é que o sobrevivente não se sinta isolado. Estar em conjunto com alguém que partilha a mesma dor", contou Frederico Augusto.
A história de Frederico é apenas uma entre as partilhadas. O jovem, agora com 31 anos, desconhece a causa ao certo do seu AVC. Mas há suspeitas: fumava, tinha colesterol elevado, "uma vida stressante" e pesava 98 quilos para uma altura de 1,72 metros.
Ricardo Rodrigues também tinha peso a mais quando sofreu um AVC. O episódio paralisou-lhe o lado esquerdo do corpo.
"Estava na varanda de casa a fazer bricolage e senti os músculos da cara a fraquejar. Ainda consegui ir à casa de banho e vi a boca de lado", recordou o homem que criou um canal de YouTube para mostrar a outros sobreviventes como realizar as tarefas do dia a dia após o AVC. Descascar fruta ou calçar meias apenas com uma mão são exemplos.
Janina Fontoura, neuropsicóloga no Hospital da Prelada, sublinha a importância da partilha de testemunhos: "Neste grupo, a pessoa ajuda e também é ajudada. Acaba por ser um momento em que a pessoa percebe que não está sozinha no processo de reconstrução de vida".
Maria de Fátima Mendonça, cuidadora do marido há 15 anos, encontrou no grupo "uma família". "Somos muito apoiados em tudo. Estas sessões são uma espécie de terapia", afirmou.
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GAM
Há 12 grupos de Ajuda Mútua no país, dinamizados pela associação Portugal AVC. O primeiro grupo foi criado em 2016, em Viseu. Atualmente, existe também em Alcoitão, Guimarães, Guarda, Santa Maria da Feira, Gaia, Lisboa, Portimão, Faro, Funchal, Porto e Famalicão. Em maio, iniciam-se sessões em Aveiro e Leiria. Quem quiser aderir aos grupos deve contactar a Portugal AVC, através do site ou do Facebook da associação.
Sinais de alerta
Os principais sintomas do AVC são a falta de força no braço, boca ao lado e dificuldade em falar. Em caso de sintomas, o utente deve ligar para o 112 de forma a ser encaminhado para o hospital mais adequado, através da Via Verde do AVC.
Via Verde
INEM enviou em média 16 casos por dia em 2021
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) encaminhou no ano passado 5816 doentes, através da Via Verde do AVC, mais 877 casos do que em 2020. Uma média de 16 casos por dia contra 13 no ano anterior e 12 por dia em 2019. Este ano, até 28 de março, o INEM encaminhou 1295 casos. O Porto continua a ser o distrito com mais casos encaminhados (1325), seguido de Lisboa, com 1103 e Braga com 511.