Elementos da organização da manifestação Casa para Viver, Planeta para Habitar juntaram-se, esta sexta-feira, na Alameda da Universidade, em Lisboa, onde montaram um T0 feito de materiais encontrados no lixo, com uma suposta renda de 1800 euros. É um apelo à participação na manifestação de amanhã.
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Ticiano Rottenstein, um artista brasileiro que mora há quatro anos em Lisboa, descreveu o T0 como uma casa de “conceito vintage, minimalista e espaço aberto”, pedindo 1800 euros mensais, com duas cauções e duas rendas adiantadas.
“Não queríamos fazer uma grande manifestação, queríamos um gesto simbólico que marcasse a agenda, foi por isso que decidimos construir esta infraestrutura. Simboliza, perfeitamente, os problemas que os estudantes enfrentam atualmente para frequentarem o ensino superior e para terem acesso a alojamento a preços acessíveis”, explica ao JN Diogo Ferreira Leito, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa.
“Temos constatado que um grande número de imóveis que eram disponibilizados para estudantes, do passado ano letivo para este, foram retirados do mercado de alojamento, ou seja, há menos quartos em Lisboa e os que existem aumentaram de preço. Para além disso, os senhorios como procuram, na perspetiva deles, alguma segurança da parte dos estudantes, pedem no início o valor de três ou quatro rendas mensais. Valores completamente incomportáveis para a maioria dos estudantes e das suas famílias. O que acontece é que muitos estudantes veem-se obrigados a desistir do ensino superior e a voltarem para a casa dos pais para poderem trabalhar e, talvez no futuro, terem lugar no ensino superior”.
Tomás Antunes, estudante deslocado no Instituto Superior Técnico e membro do movimento Habitação de Abril, acredita que “o povo está pronto para sair à rua” e que “a movimentação” começou com o T0.
Chamar políticos à responsabilidade
“Se o meu problema é a habitação, onde vou viver e trabalhar, para além das aulas, acaba por não sair da minha cabeça. Não vou conseguir estar atento nas aulas e a muitas outras coisas. Por isso, com esta ação e com as cerca de 22 manifestações de amanhã pretendemos chamar à responsabilidade os nossos políticos”.
Conta que, na sua universidade, sente-se “um clima muito tenso” com “muita pressão psicológica relacionada com a situação económica que estamos a viver atualmente, incluindo, obviamente, os preços das casas e todos os gastos acrescidos” o que aumenta “a crise de saúde mental que vivemos”.
“Nós, jovens, estamos a lidar com os primeiros problemas da vida adulta e nem sempre se consegue aguentar este tipo de pressão”. Corre-se o risco dos estudantes se “isolarem da família e amigos” por “não perceberem” o que estão a sentir e “não conseguirem apoio psicológico nas faculdades”, explica.
Beatriz Mestre, membro da direção do movimento Habitação de Abril, é do Alentejo e está deslocada em Lisboa. Frequenta o terceiro ano de licenciatura na Faculdade de Letras da UL. Conta que, em 2021, quando procurava quartos na capital, deparou-se com “preços incomportáveis, quartos em zonas muito distantes da faculdade ou sem condições”, “não muito diferente da atual situação dos estudantes deslocados”.
Durante os três anos do seu curso, Beatriz Mestre pagou cerca de 700 euros mensais por um estúdio de 20 metros quadrados numa residência privada, “algo que nem todas as famílias conseguem comportar”. “Residências privadas não têm de ser a solução e não podem ser a única solução”, diz.
Conta que já pensou em tentar encontrar um quarto fora de residência mas que ficaria “quase mais caro” do que continuar onde está. “Teria de ficar num quarto em que as despesas não estão incluídas, sem passarem faturas, sem condições. Os senhorios aproveitam-se da situação para tentarem explorar-nos o mais que conseguirem e isto não é aceitável”, diz.
A ação realizada na tarde desta sexta feira serviu como “introdução” para a manifestação Casa para Viver, Planeta para Habitar, que se realizará este sábado em, pelo menos, 23 cidades no país.