Comunidade de Palmela acolhe 20 jovens consumidores, mas já esteve duas vezes para fechar, está com dívidas e não sabe se aguenta até ao fim do ano.
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O futuro dos 20 jovens consumidores de drogas que estão em tratamento na Comunidade Terapêutica Luís Barros, em Palmela, é mais incerto do que nunca. Num momento da vida em que estavam a recuperar, o subfinanciamento da instituição ameaça comprometer o tratamento feito. "Estamos a trabalhar com receitas de 2008 e com custos de 2022, ou seja, isto é fazer omeletes sem ovos", critica Elísio Barros, diretor da comunidade.
"Nós já estivemos por duas vezes para encerrar e não sei se chegaremos ao final deste ano", admite, enquanto antevê uma realidade dramática para os jovens no caso de encerramento: "Nós aguentamos para evitar que estas crianças venham a ter um problema muito grande, até porque não há vagas nas outras instituições". A alternativa destes jovens, clarifica, é "voltar à delinquência e ao insucesso escolar".
Os rapazes entre os 14 e os 18 anos que estão em tratamento em Palmela são consumidores de canábis, cocaína ou heroína. A maioria foi encaminhada pelos tribunais e comissões de proteção. Na comunidade, aprendem que a vida pode ser melhor do que aquela que os levou lá, criam novos hábitos, regras e normas num trabalho do foro psicológico e psíquico que implicam muitos meses de paciência.
A escolarização também faz parte do processo de tratamento e nenhum jovem sai sem, pelo menos, completar o 9.º ano. Todos têm de superar aquilo a que o diretor chama "carência de afetos". Afinal, ali não há toxicodependentes jovens, há miúdos que são "consumidores com alguma regularidade" e cuja base "emocional e afetiva está muito danificada", esclarece Elísio Barros. São jovens que estão na "fase de namoro com as drogas", em que se defrontam com dois caminhos e têm de escolher entre a vida normativa e o percurso da toxicodependência. "É evidente que se não for feito nada muitos destes miúdos vão tornar-se toxicodependentes", avisa o diretor.
Mas a instituição soma faturas em atraso e cerca de 90% das receitas são canalizadas para salários de cerca de 700 euros, pelo que "é um milagre" manter a comunidade de pé. Os 10% de receitas que restam têm de dar para gerir a casa e pagar as contas da água, luz, gás, renda e alimentação.
Elísio Barros assinala que "todas as pessoas que trabalham na instituição vestem a camisola por cerca de 700 euros", o salário mínimo, e isso "é terrível", admite, embora nada possa fazer para valorizar os profissionais que mantêm a casa aberta 24 horas por dia, sete dias por semana. Com isto, a sobrevivência está nas mãos do Governo, conclui: "Falta coragem política para nos dizerem se querem que funcionemos".