Dezenas de funcionários do MyAuchan protestaram esta manhã junto a um supermercado de Lisboa contra a “repressão dos direitos laborais”, numa concentração promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) e pela CGTP-IN. O grupo Auchan refuta totalmente as acusações.
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“Estamos aqui em solidariedade com os trabalhadores do MyAuchan, em particular o da Amadora. O protesto teve origem lá, mas hoje decidimos manifestar o nosso descontentamento em frente à casa-sede da empresa”, disse Bruno Homem, de 45 anos, funcionário do MyAuchan.
“Os trabalhadores estão, atualmente, de coração nas mãos por não saberem o seu futuro. Querem a reintegração total, sem mais represálias”, explica. “Estamos a falar de pessoas e não de números, é uma matéria de responsabilidade social. A empresa acusou os funcionários e os seus representantes de declarações falsas: não é o caso, são factos”, acrescenta.
Confrontado com estas acusações, fonte oficial do grupo garantiu que se pauta por "colocar os colaboradores no centro do seu projeto humano”. Referiu também que é a única empresa do setor, em Portugal, com um sistema de gestão de responsabilidade social certificado segundo a norma SA8000.
“A adesão voluntária a esta norma resulta da exigência de melhoria contínua e acompanhamento permanente do desempenho da organização no âmbito dos direitos humanos, direitos sociais e laborais, assim como do bem-estar e segurança dos colaboradores”, assegura a empresa.
Um comunicado do CESP, distribuído no local, adianta que os funcionários do MyAuchan estão “em luta contra a imposição da empresa de colocar os operadores de supermercado a fazer a limpeza geral da loja”. Segundo o documento, “a empresa diz não estar disponível para comentar processos judiciais em andamento, nem para resolver a situação”.
O CESP acusa o MyAuchan de separar os funcionários, ao mexer com horários e ao transferi-los para outras lojas do grupo, de os processar e de os suspender com a intenção de os despedir. O grupo Auchan nega esta acusação e assegura que há, “na mesma loja”, funcionários que aderiram à greve e que não foram alvo de suspensão ou de “qualquer processo disciplinar” por causa da sua participação. Acrescenta que há “muitos” colaboradores sindicalizados na empresa.
Sindicato fala em amedrontar
“Já que têm meios para comprar o [grupo] Dia, como é que não têm meios para pagar a pessoal de limpeza?”, questiona Lídia Jesus, funcionária do MyAuchan da Amadora. “Não está no nosso contrato, não faz parte das nossas funções e, por esse motivo, gostava que voltassem atrás na decisão”, afirma Eloísa, operadora de supermecado no MyAuchan.
“O pessoal da limpeza perdeu o emprego e nós ficámos com mais encargos em cima de nós”, remata a funcionária.
“Fechámos a loja, é um direito que a gente tem. Não somos nenhuns farrapos, não é ‘eles mandam e a gente obedece’. Muito graças ao sindicato, temos muita força para lutar, para além de vontade”, disse Lídia Jesus ao microfone. “Sobem os lucros, sobe [o preço] da água, do gás… Sobe tudo, menos o salário”, clamou Gonçalo Paixão, da Interjovem (CGTP-IN).
Estavam também presentes João Coelho (CGTP-IN), que acusou o MyAuchan de tentar “amedrontar os manifestantes”, e Ana Pires, da Comissão Executiva da CGTP-IN. “Esta sensação de impunidade, que leva a ações tão repressivas, vem de onde?”, questiona Ana Pires, que acusou o Governo de “proteger” as empresas com a legislação laboral.
No final do protesto, perto das 13 horas, os promotores da concentração agradeceram ao PCP pela recente intervenção parlamentar a propósito do “silêncio” da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT): “demonstra de que lado da luta estão”, comentaram.
O grupo Auchan esclareceu ao JN que o processo disciplinar instaurado a alguns trabalhadores “tem como única razão a recusa da prestação de trabalho”. “Este foi instaurado no referido contexto e trata-se, acima de tudo, de uma questão de justiça para com os cerca de 8900 colaboradores do MyAuchan que executam diariamente as tarefas apontadas”, garante a mesma fonte.