Confinamento do fim de semana antecipa e afunila as compras de Natal no limiar das regras sanitárias.
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Se a crise sanitária também mudou os hábitos de consumo é forçoso constatar, como se verificou ao final da tarde de sexta-feira, sobretudo nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, que não é a covid-19 que impede milhares de cidadãos de aceder aos novos templos da convergência natalícia. As medidas restritivas decretadas pelas autoridades sanitárias parecem, afinal, ter o perverso condão de afunilar, nos dias de semana, em horário pós-laboral, os clientes obrigados a confinamento durante o fim de semana.
A Associação dos Centros Comerciais garante ter meios de controlo de entradas e saídas nos hipermercados e nas próprias lojas, mas a aglomeração destes transeuntes e consumidores andará no limiar da ordem, que exige cinco pessoas por dez metros quadrados. Ainda na sexta-feira, no NorteShopping, em Matosinhos, o JN verificou uma longa serpente humana, de uns bons cem metros, à entrada da loja de uma multinacional de roupa a preços populares. Apinhados, os parques automóveis expunham a grande afluência de fregueses. Contactada pelo JN, a Sonae, dona do maior centro comercial do Norte, não esteve disponível para comentar.
Além do acesso pelos pisos inferiores, dos parques de automóveis, foi também notório o súbito aumento de clientes apeados, a partir das 17.30 horas, no horário pós-laboral.
Duas amigas de Vila Nova de Gaia, estudantes, não hesitaram, "porque não podemos ceder ao medo", como verifica Helena Vicente, de 18 anos, ela que, recentemente oriunda de Macau, se obriga a uma disciplina asiática. "Lá, toda a gente andava de máscara e toda a gente respeitava as orientações das autoridades sanitárias. Aqui em Portugal, sigo sempre essas orientações. Entendo que o Governo está a tentar fazer o melhor, mas acho que estas medidas, estas restrições de horários, não estão a ter o efeito pretendido, porque cria aglomerações desnecessárias", disse Helena.
"É claro que tenho receio. Mas também temos de continuar a viver. No meu caso, trato sempre de me proteger o mais possível", acrescentou, logo seguida pela amiga Elea Gomes, também de 18 anos. "Uso sempre máscara e desinfetantes. Não facilito. Tenho receio, porque o risco está sempre presente, mas é claro que temos de continuar a viver. E não podemos deixar de fazer as compras de Natal. É possível que haja gente a mais nos espaços comerciais e acho, por isso, que os horários deviam ser alargados. Mas o mais importante é a atitude de cada um de nós", concluiu Elea.
Para José Anjos, de 71 anos, morador no Porto, a explicação é muito mais lacónica: "As pessoas, quando não têm nada para fazer... É o meu caso".
Centros querem duplicar limites
A Associação dos Centros Comerciais quer duplicar a lotação nas lojas, de cinco para dez pessoas por cem metros quadrados. Hoje, diz o presidente, Sampaio de Mattos, é usual haver aglomerações de pessoas no exterior das lojas menores. E a imposição de fecho na tarde dos fins de semana, nos concelhos de maior risco, concentra clientes nas manhãs e dias úteis. Apesar disso, os shoppings têm menos clientes do que em 2019.