Há mais maços de cigarros disponíveis para venda hoje do que havia em maio de 2018. No acumulado do ano, o mercado apresenta uma ligeira quebra desde 2017, que tem vindo a esbater-se.
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As imagens-choque dos maços de tabaco - que passaram a ser obrigatórias faz hoje três anos - não surtem efeito junto da maioria dos consumidores e a própria Direção-Geral de Saúde admite não ter estudos que confirmem o impacto desta medida. Há quem escolha os maços em função das fotografias menos chocantes, mas, apesar de ligeiras flutuações, as vendas não apontam para uma forte quebra. Este ano, há sinais que indicam mesmo uma subida. Até abril, os dados da Autoridade Tributária mostram que a indústria colocou no mercado 3,1 mil milhões de cigarros contra 2,3 mil milhões em 2018 (aumento de 31%) e 2,8 mil milhões registados em 2016, quando a medida entrou em vigor.
Olhando para os dados anuais, o cenário de quebra verificado entre 2016 e 2017 perdeu força no ano passado. Segundo o Fisco, a disponibilização de cigarros caiu 3,7% de 2016 para 2017 - de 10,4 mil milhões para 10 mil milhões. Mas em 2018 a diferença reduziu apenas 1,9%, para 9,8 mil milhões.
Impacto desapareceu
Ricardo Pinho, proprietário da tabacaria Casa Pereira no Porto, confirma o fraco impacto das imagens. "Na altura havia pessoas que só compravam o maço se este não tivesse determinadas imagens. Hoje isso já não acontece", diz: pode haver choque, mas o impacto foi desaparecendo.
Tanto Ricardo Pinho como Isabel Simões, funcionária da tabacaria, afirmam que a solução passou - e passa - por os clientes comprarem capas para guardar os maços ou até escolher a fotografia.
"Na altura as pessoas falaram bastante", admite o proprietário, revelando que isso já não acontece: o tabaco vende-se bem e a este aliou-se o tabaco aquecido, com muita procura e que escapa às imagens.
Ricardo Pinho é fumador há 10 anos e admite não gostar de olhar para o maço, mas definitivamente "não diminui o uso". José Marcelo, de 69 anos, fumador há 23, confessa que as imagens "causam desconforto", mas nunca pensou em deixar de fumar. E arranjou uma forma de lidar com esse incómodo: "tiro da embalagem, meto numa capa e faço por esquecer".
Tal como José, Fábio Pinto, 30 anos, fumador há 12, nunca pensou em deixar de fumar devido à embalagem. Admite que inicialmente "as imagens causaram impacto, agora não fazem diferença".
Fumadores e vendedores reconhecem que o uso de imagens chocantes teve algum impacto no início. No entanto, o efeito foi-se perdendo, juntamente com o objetivo de convencer os fumadores a deixar o vício. Isto apesar das 42 imagens da biblioteca de imagens terem sido introduzidas de forma rotativa, precisamente para evitar habituação.
O que ficou por fazer
A pneumologista Sofia Ravara considera que o impacto seria superior se as imagens ocupassem 80% da área do maço, associada à anulação total do marketing, ou seja, dando lugar a embalagens brancas sem logótipo ou cor. "A medida está incluída na proposta inicial da diretiva da UE, mas foi abolida devido ao lóbi da indústria", defende.
A medida é recomendada, diz, e há alguns países que "implementaram ou vão implementar esta medida como, por exemplo, França, Reino Unido, Irlanda". Em seu entender, ficou muito por fazer para evitar a promoção junto dos jovens. "Portugal é um dos poucos países que ainda possuem a venda em máquinas automáticas, o que está provado promover o consumo nos jovens".
Outras medidas
Design apelativo
A diretiva europeia de 2014 estabeleceu algumas regras para impedir o design apelativo dos maços de tabaco e embalagens de formas irregulares, uniformizando o produto: cigarro e pacote. De qualquer modo, a descaracterização total das embalagens, iniciada na Austrália, não vingou.
Aromas proibidos
Os produtos de tabaco com aromas distintos foram proibidos. Para os produtos de tabaco cujo volume de vendas era superior a 3%, como era o caso do mentol, optou-se por uma fase transitória, cujo prazo termina daqui a um ano (20 de maio de 2020). O tabaco aquecido está em crescendo.