O presidente do SNPVAC critico, esta quinta-feira, a administração da TAP, a braços com a crise gerada pela indemnização paga a Alexandra Reis, afirmando que nos últimos meses tudo em que a gestão toca "vira polémica".
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Em declarações à Lusa, Ricardo Penarroias, que lidera o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) disse que a crise, que já levou à demissão do ministro Pedro Nuno Santos, gerou nos trabalhadores "um misto de sentimentos, de revolta, de vergonha" lamentando que estejam a ficar "infelizmente acostumados" a estas situações.
"Nos últimos meses, tudo em que a administração toca vira polémica", destacou, garantindo que esta conclusão "é inegável".
"Têm sido várias as questões que envolvem polémica, desde a aquisição da frota nova de carros, a mudança da sede, a contratação de novos diretores que não se sabe bem que cargo e lugares vão ocupar", bem como "indemnizações faraónicas para administradores da empresa", salientou.
"Os trabalhadores do grupo TAP começam a achar que isto infelizmente é normal", referiu o presidente do SNPVAC.
"A verdade é que a mensagem que passou mais uma vez aqui na assembleia [geral de trabalhadores que chumbou hoje uma proposta da TAP] é um total descontentamento por parte dos tripulantes de cabine à atual administração, é um voto de cartão vermelho à postura que a empresa e administração têm tido. É um misto de revolta e insatisfação e é inegável que a paz social está condenada", lamentou.
Questionado sobre se a administração da TAP deveria tirar ilações desta crise, Ricardo Penarroias respondeu: "como é lógico".
"Devia tirar ilações e urgentemente. Até porque o ministro assumiu a responsabilidade que tinha de assumir, fez algo que em Portugal, muitas vezes, infelizmente, em alguns cargos importantes não acontece", referiu.
No entanto, para o presidente do SNPVAC "existem partes envolvidas neste processo que têm de assumir a sua decisão e assumir o que fizeram", sublinhando que, "quem deu o aval para dar esse valor tem de assumir a responsabilidade".
O presidente do sindicato disse que há "vícios do passado que preocupam muito os trabalhadores do grupo TAP, que conduziram ao estado que a companhia se encontra hoje e que continuam a acontecer", o que é, defendeu, "gravíssimo".
"Parece-me que se calhar hoje muitos dos contribuintes entendem que o estado em que a empresa se encontra não se deve aos salários dos trabalhadores, mas sim a vários atos de gestão que ao longo dos anos a empresa foi sujeita", destacou.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, demitiu-se na quarta-feira à noite para "assumir a responsabilidade política" do caso da indemnização de 500 mil euros da TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro.
Esta foi a terceira demissão do Governo em dois dias, depois de Alexandra Reis, da pasta do Tesouro, no centro da polémica com a indemnização, e do secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, que acompanhou a decisão de Pedro Nuno Santos.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, demitiu na terça-feira a secretária de Estado do Tesouro, menos de um mês depois de Alexandra Reis ter tomado posse e após quatro dias de polémica com a indemnização de 500 mil euros da TAP, tutelada por Pedro Nuno Santos.
Alexandra Reis recebeu uma indemnização por sair antecipadamente, em fevereiro, de administradora executiva da transportadora aérea. Em junho, foi nomeada pelo Governo para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV) e este mês foi escolhida para secretária de Estado do Tesouro.
A decisão de indemnizar Alexandra Reis, noticiada pelo Correio da Manhã, foi criticada por toda a oposição e posta em causa até pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao dizer que seria "bonito" prescindir da verba.