Politólogos dizem que situação vivida no Governo exige do PSD respostas imediatas e mais claras sobre projeto e posicionamento face ao Chega.
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Eleito presidente do PSD há um ano, a 28 de maio de 2022, Luís Montenegro diz estar pronto para governar, apesar de Marcelo Rebelo de Sousa repetir que ainda não é alternativa. Os politólogos ouvidos pelo JN concordam que falta clarificar o projeto do PSD e desfazer todas as dúvidas sobre o posicionamento face ao Chega. Quando um cenário de legislativas antecipadas é tema recorrente, Filipe Teles e Patrícia Silva consideram que Montenegro deve acelerar a estratégia. Em 2024, as europeias serão uma prova de fogo.
"A estratégia de corredor de fundo", típica de um líder de Oposição em contexto de maioria absoluta, foi "atropelada" pelas polémicas que atingem o Governo, diz Filipe Teles, pró-reitor da Universidade de Aveiro.
Estratégia prejudicada
O professor de Ciência Política refere que, quando Montenegro venceu as diretas, estava convencido de que teria tempo para preparar uma estratégia de médio e longo prazo porque era suposto o Governo ter estabilidade. "O que prejudicou a estratégia de corredor de fundo foi ter-se visto na circunstância em que o Governo de maioria absoluta está fragilizado. Isso exige respostas muito mais rápidas do PSD", referiu ao JN.
Do mesmo modo, crê que os casos que envolvem o Governo tornam "mais premente" um "posicionamento claro sobre alianças".
"Outro problema é Luís Montenegro estar ausente do Parlamento", sublinha Filipe Teles, ao contrário do que acontece com outros dois líderes de Direita. Quando há um reforço do Chega nas sondagens, constata que Montenegro "tem tomado posições tendencialmente mais claras de distanciamento, mas não coloca de forma objetiva uma linha vermelha". Já quanto à IL, a aproximação já foi assumida pelos líderes.
"É mais urgente que o PSD se afirme como alternativa. Tem de acelerar estratégia", refere Filipe Teles.
"indefinição" do líder
Patrícia Silva, professora de Ciência Política e autora do livro "Breve História do Partido Social Democrata", crê que "a nota mais negativa que vai pesar sobre Luís Montenegro é a sua indefinição". Ao JN, afirmou ser difícil "identificar uma posição do PSD em temas fundamentais como habitação, SNS e educação". E também saber "onde se posiciona" no espectro partidário.
No quadro das polémicas que atingem o Governo, retira do discurso de Cavaco Silva um alerta ao PSD para "a necessidade de marcar a sua posição" em temas essenciais, "em vez de enveredar por um discurso muito à Direita, de contestação e pedidos de demissão".
Considera ainda que Marcelo "tirou margem de manobra" a Montenegro e "o próprio não se assume como alternativa". Mas "Cavaco tentou relançar essa margem, dizendo que o PSD é a alternativa" e "sinalizando" que deve "assumir a posição de pivô à Direita", afastando o Chega. Ou seja, "eliminar as indefinições sobre possíveis coligações" e "o programa". Aliás, a politóloga lembra os receios de Marcelo: "Não quer, no último mandato, antecipar eleições e ter de lidar com uma tomada de posse do Chega".
Sobre Pedro Passos Coelho, Patrícia Silva constatou "momentos em que o seu aparecimento beneficiava Luís Montenegro", mas "este caso é mais sensível pela hipótese de ainda ter aspirações políticas".