Um em cada cinco doentes internados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2021 tinha diabetes, sendo que a prevalência da doença na sociedade portuguesa está a aumentar. Em 2021, o Observatório Nacional da Diabetes estima que cerca de 1,1 milhões de pessoas, entre os 20 e os 79 anos, tinham diabetes. Os gastos com a doença representaram, no mesmo ano, entre 0,7% e 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) e 7% da despesa em Saúde.
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Os dados foram apresentados esta sexta-feira e constam no 10.º Relatório do Observatório Nacional da Diabetes. O "peso crescente" da presença da diabetes nos internamentos hospitalares, o aumento da letalidade intra-hospitalar e a manutenção do número de amputações dos membros inferiores nas pessoas com diabetes são alguns dos indicadores considerados como "preocupantes". Soma-se, ainda, o aumento da despesa com medicamentos e a "persistência de assimetrias regionais em alguns indicadores".
Em 2021, segundo o relatório, 20,3% dos internamentos hospitalares correspondiam a utentes que tinha a diabetes como diagnóstico principal ou diagnóstico associado. A esmagadora maioria dos internamentos por diabetes são protagonizados por adultos e estão relacionadas com complicações crónicas ou agudas da doença.
"A representatividade da diabetes no universo dos utentes saídos dos hospitais do SNS tem crescido nos últimos anos. Em cada cinco internamentos nos hospitais públicos portugueses, a diabetes está presente em um deles", referiu Rita Nortadas, secretária geral da Sociedade Portuguesa de Diabetologia.
A estimativa mais recente do observatório aponta para cerca de 1,1 milhões de pessoas com diabetes em Portugal, numa prevalência de 14,1%. São pessoas entre os 20 e os 79 anos e cerca de 90% têm obesidade ou excesso de peso. A prevalência da doença está a aumentar, também influenciada pelo envelhecimento da população.
"A prevalência continua a aumentar, o que significa que não podemos baixar a guarda na luta sem tréguas contra a pandemia da diabetes", lê-se no relatório, no qual é ainda referido que 42,7% da população portuguesa entre os 20 e os 79 anos tem diabetes ou hiperglicemia intermédia.
Só em 2021, de acordo com os dados do relatório, houve mais de 80 mil novos casos registados nos cuidados de saúde primários de Portugal Continental. No mesmo ano, nesta rede encontravam-se registados 903 644 utentes com diabetes e foram realizadas mais de dois milhões de consultas. A maioria nos centros de saúde.
"A pandemia associada à covid-19 teve especiais reflexos na atividade médica da diabetes nos cuidados de saúde primários, com especial reflexo no ano de 2020. Comparativamente ao ano de 2019 foram realizadas menos 261 922 consultas em 2020. Não obstante o crescimento registado em 2021, o número de consultas de Diabetes é ainda deficitário comparativamente aos valores de 2019", explica o relatório.
Também o número de doentes abrangidos pelo rastreio da Retinopatia Diabética "foi grandemente influenciado" pela pandemia. Registou-se "uma quebra superior a 50% no número de rastreios em 2020" e uma recuperação da atividade em 2021, ainda que "aquém do período pré-pandémico".
Olhando para a mortalidade, apesar do "ligeiro decréscimo da representatividade da diabetes nas causas de morte em Portugal", a patologia "continua a assumir um papel significativo". Em 2020, o último ano com dados disponíveis, a doença esteve na origem de 3,3% dos óbitos. O observatório realça, ainda, o aumento do número absoluto de mortes registadas nos internamentos hospitalares e em que a diabetes foi o diagnóstico principal (446 em 2021), bem como "um crescimento da taxa letalidade intra-hospitalar nos doentes hospitalizados com diabetes como diagnóstico principal".
No que toca a amputações, o observatório aponta que o "número total de episódios com amputações dos membros inferiores em doentes de diabetes têm-se mantido estável ao longo do período considerado". No entanto, houve um "aumento registado das amputações major".
A diabetes custou, em 2021, entre 1 400 e 1 700 milhões de euros, o que representa entre 0,7% a 0,8% do PIB e 7% da despesa em saúde. A despesa com medicamentos em ambulatório aumentou de 386,7 milhões de euros em 2020 para 423,8 milhões de euros nesse ano.
"O consumo de medicamentos para a diabetes tem estado a aumentar significativamente ao longo dos últimos anos, em toda a Europa. As razões apontadas para esta dinâmica são, além do aumento da prevalência da doença, o aumento do número e da proporção de pessoas tratadas, bem como as dosagens médias utilizadas nos tratamentos", lê-se no documento.
O relatório aponta uma evolução positiva a "diminuição do número absoluto dos internamentos associados a descompensação ou complicações da diabetes", "a continuação da tendência de aumento de pessoas com diabetes diagnosticadas evidenciada em 2021" e o "aumento do número de pessoas com diabetes que utilizam bombas infusoras de insulina comparticipadas pelo SNS".
O documento dá, ainda, conta da existência estimada de 537 milhões de pessoas adultas com diabetes em todo o mundo e da existência de 240 de milhões de pessoas com diabetes que desconhecem que possuem a doença. "Prevê-se que o número total de pessoas com diabetes aumente para 643 milhões até 2030 e 784 milhões até 2045", refere o observatório.