Valérius 360 aposta na circularidade da cadeia têxtil e cria novos materiais mais sustentáveis e ecológicos.
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Do exterior é quase impossível perceber que da imponente fábrica da Valérius 360, com 22 mil metros quadrados, sai um fio de algodão reciclado, que quer fazer jus a uma nova máxima: de que nem tudo o que se faz na indústria é poluente ou de que é possível minimizar o impacto. O projeto de circularidade da Valérius Têxteis produz fibra a partir do desperdício têxtil das fábricas do grupo e dos concorrentes.
"O desperdício tem de ser recolhido em determinadas condições: livre de contaminantes, separado por cores, composições e estruturas. Fazemos, depois, uma segunda seleção", explica Eugénia Teixeira, responsável de sustentabilidade e circularidade da Valérius 360.
Lá dentro, 58 trabalhadores, divididos por turnos, mantêm a fábrica a trabalhar durante 24 horas por dia. Localizada na freguesia de Guilhabreu, em Vila do Conde, o dia de laboração é preenchido com várias fases: desde a chegada dos camiões com os têxteis, trituração da matéria-prima e até à formação do próprio fio.
"Damos vida a uma nova fibra, o algodão reciclado. Depois, misturámo-lo com fibra virgem, como algodão orgânico, algodão BCI [de cultivo sustentável], poliéster reciclado, tencel [feito a partir de lyocell, fibra gerada a partir da celulose] ou tencel com algas", diz a responsável da Valérius 360.
O objetivo é gerar um "fio de algodão com mais qualidade e resistência", já que o "aspeto da malha" não seria o mesmo se apenas se usasse o algodão reciclado, clarifica Eugénia Teixeira. "O consumidor está bastante exigente e só agora começa a estar recetivo a produtos reciclados", acrescenta.
consumido no Grupo
O novo fio, que será consumido internamente pelas fábricas têxteis do grupo, é também vendido para fora. A garantia de que o produto tem a qualidade máxima é testada na própria empresa, que avalia o "nível de grossura e resistência" da fibra ali produzida, aponta Elisabete Rodrigues, assistente do laboratório da Valérius 360.
Além da fibra têxtil, a empresa iniciou outra iniciativa: a produção de papel a partir de algodão reciclado. Os primeiros testes foram feitos no início do ano e o produto final será vendido a clientes e usado na Ambar, empresa especializada em material escolar e de escritório, adquirida parcialmente pela Valérius em 2015.
"Usamos o algodão puro e simples, desfibramos, misturamos com água, refinamos e encaminhamos para a máquina de papel, onde se forma a folha", esclarece Gil Seromenho, responsável pela fabricação de papel na Valérius 360.
O futuro passa por aproveitar todo o desperdício da cadeia têxtil, como o pó da fiação e as fibras mais curtas, que poderão ser usadas em embalagens, isolamento acústico ou pladur.