Dois terços dos portugueses (62%) defendem a regulamentação da canábis e um terço (30%) até admite a utilização de forma livre e sem controlo (seja para uso recreativo, 14%, ou medicinal, 16%). Um quinto (23%) já experimentou esta substância. Dados revelados no Eurobarómetro sobre o impacto das drogas nas comunidades locais. Em que mais de metade dos portugueses afirmam que, nas zonas onde vivem, as pessoas que consomem ou traficam constituem um problema grave (55%).
Corpo do artigo
O consumo de canábis em Portugal é claramente influenciado pela idade do potencial utilizador. Um pouco mais de um quinto dos inquiridos admitem já ter experimentado (23%). Mas, entre os mais novos (15 a 24 anos), a proporção chega a um terço (32%), de acordo com o Eurobarómetro especial divulgado este mês pela União Europeia e que inclui mais de 25 mil entrevistas entre a população dos 27 estados-membros (1006 em Portugal).
Quando se avaliam os resultados nos diferentes grupos etários, a percentagem dos que admitem já terem usado canábis vai caindo com a idade, mas ainda são 20% entre os mais velhos (55 ou mais anos). O inquérito (realizado entre junho e julho do ano passado) detalha que 5% consumiu esta droga nos últimos 30 dias (8% nos mais jovens); 7% nos últimos 12 meses (9% nos mais novos); e 11% há mais de um ano (16% no grupo dos 15/24 anos). Mas há ainda dois segmentos socioeconómicos que se destacam no consumo: os trabalhadores independentes (32%) e os operários (29%).
Mais jovens, mais liberais
Não surpreende então que seja também entre os jovens que haja maior número de adeptos da liberalização total da canábis. Os portugueses estão abertos a uma utilização regulada (62%, a mesma percentagem que a generalidade dos europeus), mas apenas 14% admitem o uso recreativo por adultos (23% no caso do conjunto dos europeus). No caso dos que têm entre 15 e 24 anos, são 23% a defender a via mais radical (a percentagem vai decrescendo ao longo da pirâmide, até chegar aos 10% nos que têm 55 ou mais anos).
A estes há ainda que somar, no entanto, os 16% de portugueses que admitem o recurso medicinal da canábis sem necessidade de receita médica. Ou seja, 30% dos cidadãos admite o uso da canábis de uma forma livre, sem controlo por qualquer tipo de autoridade, seja esse consumo ditado por razões recreativas ou por razões de saúde. Ainda assim, note-se que a solução preferida da maioria da população é que a canábis seja utilizada unicamente por razões médicas e mediante receita (61%). Só 8% dos inquiridos rejeitam qualquer tipo de uso, incluindo o medicinal, para esta droga.
Droga é problema grave
Apesar de incluir perguntas acerca dos eventuais consumos, o principal objetivo deste Eurobarómetro é medir o impacto das drogas nas comunidades. Quando se pergunta aos portugueses sobre o problema das pessoas que consomem ou traficam nas suas zonas de residência, é muito elevada a percentagem (55%) dos que dizem ser grave (muito próximo da média europeia, que é de 54%). Cerca de 20% apontam algum problema, mesmo que pequeno; e apenas um quinto (21%) não reporta qualquer incómodo.
Outra das perguntas aponta, no entanto, para uma certa estabilidade, uma vez que a maioria (55%) aponta para que o problema se tenha mantido sem alterações ao longo dos últimos anos. Se é verdade que 17% se queixa de um agravamento, são um pouco mais (21%) os que detetam uma redução dos problemas.
Um desses problemas é a criminalidade associada. Sendo que os roubos e os furtos são o que mais preocupa: 15% dizem que o tráfico e consumo de droga são a causa mais importante para este tipo de crimes na zona onde vivem, enquanto 49% a inclui entre as várias razões para esse tipo de crimes. Logo a seguir vem a criminalidade juvenil, com 9% dos portugueses a apontar a droga como a causa mais importante, e 49% a considerarem que o consumo é apenas uma entre várias razões para a criminalidade comunitária.
Facilidade de aquisição
Entre os que responderam que o tráfico e o consumo constituem algum grau de preocupação, ainda que pequeno (75% do total de inquiridos), a consequência mais apontada para a zona onde vivem é a facilidade com que as drogas ficam disponíveis (48%). Numa pergunta em que era possível apontar várias respostas, o segundo problema mais citado é o facto de os consumidores fumarem canábis em lugares públicos (47%) e, em terceiro lugar, a pobreza e desemprego gerados pelo consumo de drogas (44%).
Na generalidade da União Europeia, as principais preocupações são diferentes: 71% aponta para o problema dos acidentes de viação; 67% para a possibilidade de consumo por parte de crianças e adolescentes (39% dos portugueses também são sensíveis a esta questão); e finalmente 67% preocupam-se a facilidade com que a drogas ficam disponíveis na sua comunidade.
Outros dados
52% dos portugueses garantem que lhes seria fácil obter canábis no espaço de 24 horas (na Europa são 56%). Cerca de um terço (32%) acha que seria difícil.
64% dos portugueses discordam da ideia de que a disponibilidade de drogas gere insegurança na zona onde vivem (74% no caso dos operários). Apenas 36% demonstram essa preocupação (40% no caso dos que vivem em grandes zonas urbanas).
34% dos portugueses dizem que a venda online de drogas complica o problema da droga na sua comunidade (41% no caso dos europeus). Mas a maioria (46%) pensa que esse não é um problema com significado (42% dos europeus).
86% dos portugueses entendem que a utilização de cocaína deve continuar a ser proibida (89% no caso da generalidade dos europeus), e apenas uma pequena fatia de 12% admite o seu uso de forma regulada (10% dos europeus).
7% dos portugueses consideram que a droga é a causa mais importante para os crimes violentos e os homicídios. Para 42% são apenas uma entre várias causas. 39% entendem que a droga nada tem a ver com este tipo de crimes.