Férias das escolas deviam ter sido antecipadas para evitar transmissão entre os 5 e os 11 anos, diz especialista.
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Uma em cada cem crianças entre os 6 e os 11 anos está infetada com covid-19 e perto do Natal a incidência será maior, o que traz riscos acrescidos para os convívios familiares, adverte o matemático Carlos Antunes, considerando que as férias de Natal nas escolas deviam ter sido antecipadas uma semana em vez de prolongadas. Os mais pequenos, a quem a maior parte das medidas restritivas nunca foram impostas, devem agora usar máscara, fazer testes e evitar o contacto prolongado e muito próximo com os idosos.
Esta semana, o grupo dos 6 aos 11 anos está nos 1000 casos por 100 mil habitantes, adverte Carlos Antunes. O ritmo de crescimento está a desacelerar, mas é possível atingir os 1500 casos por 100 mil perto do Natal e o pico desta quinta onda da pandemia entre os dias 19 e 21 de dezembro, acrescenta o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que tem colaborado com as autoridades de Saúde no controlo da pandemia. Aquela incidência já foi atingida em janeiro passado, período pautado por dezenas de surtos em escolas. É certo que a pausa escolar nas festas vai suspender a transmissão, mas "se tivéssemos antecipado as férias teríamos um melhor resultado", diz.
Mesmo com a aprovação da vacina para o grupo etário dos 5-11 anos, anunciada ontem pela Direção-Geral da Saúde, e que o processo de imunização decorra em janeiro, o impacto só acontece um mês depois. "A minha preocupação é o risco de as crianças levarem a infeção para o seio familiar no Natal", realça Carlos Antunes. Por isso, recomenda que se evite o contacto prolongado e muito próximo das crianças com os idosos - "não é impedir as crianças de ver os avós", ressalva - e o uso da máscara neste grupo etário porque é a medida não farmacológica mais eficaz na redução da transmissão do vírus. "Do ponto de vista científico é recomendável, mas sei que socialmente não é bem aceite", reconhece. A testagem massiva nas escolas antes das férias de Natal também seria útil, mas implica muitos recursos. Ainda assim, as famílias devem aproveitar os testes gratuitos a que têm direito (quatro por mês) e usá-los antes dos convívios, aconselha o matemático.
Efeito visível da vacina
A incidência de infeção é quatro vezes superior no grupo etário dos 6-11 anos face ao grupo dos 12-17 anos. Em muitas escolas, estas crianças e jovens convivem, o que demonstra o efeito da vacinação, revela Carlos Antunes.
Seis mil casos no Natal
A possibilidade de o país atingir os oito mil casos/dia no Natal, como previu a DGS há dias, não é muito provável face ao atual ritmo de contágios. Segundo Carlos Antunes, poderemos atingir os 6 mil.