Instalação de pomares aumentou e há pelo menos mais 100 jovens fruticultores desde 2012. Produtos de pequena baga, subtropicais e amendoais com grande crescimento.
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Há cada vez mais fruticultores por todo o país. A maioria são jovens empresários que viram na plantação de fruta uma forma de estar mais perto da natureza e aproveitarem as condições climatéricas raras de Portugal para o cultivo. Na última década, segundo os resultados preliminares do Recenseamento Agrícola 2019, houve um aumento considerável da plantação de pomares. Desde 2012, por exemplo, já foram atribuídos 450 mil euros em bolsas para explorações de frutas, através do Centro de Frutologia Compal, que permitiu a 100 pessoas tornarem-se fruticultores.
Nos últimos 10 anos, as plantações de frutos de pequena baga (mirtilos, medronhos, framboesas e amoras), subtropicais (kiwis, abacateiros e bananeiras) e de amendoais tiveram um grande crescimento, segundo os resultados preliminares do Recenseamento Agrícola 2019. Só os frutos de pequena baga ultrapassaram os 6,1 mil hectares e a instalação de pomares de frutos subtropicais duplicou. Os abacateiros são emblemáticos: já ocupam uma área superior a 2100 hectares, maioritariamente no Algarve.
Só o Centro de Frutologia Compal, através da atribuição de bolsas, permitiu a plantação de 890 hectares de explorações, tendo a maior parte das plantações até 10 hectares. A maioria dos fruticultores são jovens licenciados em áreas como Agronomia, Engenharia, Arquitetura, Biologia ou Direito, e continuam ligados ao negócio após a instalação das explorações. "Mais de 40% trabalham exclusivamente no setor agrícola e aqueles que têm outra atividade profissional demonstram ter na fruticultura uma forte rede de suporte", explicou ao JN Madalena Faria, gestora de marketing estratégico da empresa.
Reportagem
Marmelos concretizaram um sonho antigo
As memórias de uma infância feliz a correr pela terra descalça e a colher fruta das árvores, em Borba, e a ideia de um dia os filhos terem a mesma vivência nunca saíram da cabeça de Aurora Santos. O mais difícil para a técnica de informática do Politécnico de Beja foi convencer o marido, o humorista Jorge Serafim, a comprar um terreno, mas, em 2014, conseguiu. Decidiram plantar marmelos, em Beja, e hoje já produzem 85 toneladas desta fruta para supermercados e indústria. Em fevereiro, esperam ter novos produtos e ambicionam exportar. "Sempre tive este sonho", confessa.
Aurora Santos acorda às cinco da manhã para tratar do pomar, mas, garante, "não é nenhum sacrifício". "Vou das 5 às 8 horas e depois vou trabalhar. Ao final do dia, ainda volto lá com os meus filhos. Rouba-me tempo, mas faz-me feliz. É ali que gosto de estar", partilha. É o filho mais velho, de 21 anos, já na universidade, que quando vem a casa aos fins de semana colabora mais, mas Serafim, "agora com menos trabalho, por causa da pandemia, também tem dado uma ajuda".
A fruticultora, de 48 anos, ainda pensou plantar mirtilos ou figos-da-Índia, mas acabou por optar pelo marmelo. "Além de se adaptar melhor à região, reparei que no Baixo Alentejo havia apenas uma exploração desta fruta, com dois hectares, e em Beja não existia", conta. Candidatou-se a uma bolsa do Centro de Frutologia Compal e ganhou 20 mil euros, valor que lhe permitiu arrancar com a exploração em 2015.
Volvidos cinco anos, com quatro hectares de marmelos, quer alargar o terreno, exportar e ter novos produtos. "Vamos ter marmelada, doce de marmelo, gin e licor, em fevereiro", avança. O casal alentejano ambiciona ainda mostrar "as vantagens de se consumir marmelo fresco". "As pessoas ainda acham que o marmelo só serve para a marmelada, mas pode ser cozinhado, entre outras aplicações", explica. Aurora lembra que Portugal "tem um dos melhores climas e solo para produzir fruta". "Com tanta terra abandonada que há por aí, acho que devia haver apoios do Estado a incentivar as pessoas a saírem dos grandes centros e voltarem à terra".