Cerca de duas centenas de ativistas marcharam, este sábado, até ao terminal de gás natural liquefeito da Redes Energéticas Nacionais (REN), no porto de Sines, num protesto de resistência civil da plataforma "Parar o Gás". Os ativistas bloquearam, durante várias horas, três portões da infraestrutura. Ao final da tarde, chegaram a anunciar que o protesto se iria prolongar noite dentro, mas acabaram por reclamar "vitória".
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O movimento bloqueou de forma pacífica três entradas do terminal para interromper o normal funcionamento da instalação portuária, pelo fim da exploração de gás fóssil e exigência de eletricidade 100% produzida a partir de energias renováveis até 2025.
Ao final da tarde, um grupo mais pequeno de ativistas chegou a anunciar que iria pernoitar na portaria para tentar travar a entrada do primeiro carregamento de gás natural durante a madrugada. Mas, ao final do dia, acabariam por reclamar "vitória" , depois de um grupo de apoiantes ter conseguido fechar a torneira de emergência do gás.
"O nosso objetivo foi cumprido. Efetivamente travámos a entrada de gás fóssil no terminal por terra, mar e gasoduto", afirmou ao JN Catarina Viegas, uma das porta-vozes da ação, garantindo que deram o protesto por terminado, sem qualquer incidente, nem ninguém ter sido identificado.
Pelas 13.30 horas, os ativistas chegaram aos portões do terminal de gás de Sines. Rapidamente um grupo de dez participantes no protesto formou uma corrente humana, sentados no chão e com os braços presos por tubos. Ana Maria Valinho, uma das participantes no protesto está presa às grades do portão com um cadeado de bicicleta ao pescoço. "Estamos a tentar bloquear a entrada de gás natural liquefeito em Portugal e uma das formas que encontrámos foi bloquear fisicamente como demonstração da nossa vontade em reduzir a utilização de um recurso fóssil não renovável", afirmou em declarações à Lusa.
Neste portão, onde passam habitualmente os veículos que transportam o gás que chega ao porto de Sines, encontra-se a maior parte dos ativistas e alguns membros da Amnistia Internacional Portugal para prestar apoio aos protestantes. Preparam-se para ficar no local o resto do dia. "Nós vamos continuar a parar o gás e o crime que está aqui a acontecer. Não vamos sair daqui sem fazê-lo", apontou Catarina Viegas. Durante horas continuaram a entoar cânticos ao som de tambores e a cumprir o consenso de ação de que não entrariam em confrontos com a polícia.
A poucos metros, um segundo grupo com cerca de 40 ativistas bloqueavam uma outra entrada, nas traseiras do terminal. Nesse portão, outra ativista acorrentou-se com um cadeado à volta do pescoço. "Somos a natureza em autodefesa" e "Gás é andar para trás" eram algumas das mensagens que se podem ler nas faixas que prendem às grades do portão.
Mas os bloqueios não ficaram apenas por terra: cerca de duas horas depois, um grupo de ativistas da Greenpeace e apoiantes da plataforma por justiça climática tentou bloquear o porto por mar com dois barcos e outros dentro de água com coletes salva-vidas. Seguravam faixas com palavras de ordem como "Último inverno de gás" e "Nós somos o travão de emergência" A polícia marítima interveio e travou-os.
A meio da tarde, um outro grupo bloqueou um terceiro portão. Os protestos decorreram de forma pacífica, sendo marcados por cânticos ao som de tambores, sempre sob o olhar atento de dezenas de militares da GNR.
Protesto com atraso, ativistas "culpam" a GNR
A manhã começou cedo para vários ativistas e civis que partiram em três autocarros de Lisboa, do Porto e Coimbra em direção a Sines, em Setúbal. O protesto estava marcado para as 10 horas, mas, segundo o movimento, arrancou com quase duas horas de atraso depois de serem parados numa operação "stop" da GNR de Grândola. Ficaram cerca de 45 minutos retidos na estrada.
Chegados a Sines, os ativistas concentraram-se no Jardim da República. Arrancaram, depois vestidos com fatos brancos de corpo inteiro, numa marcha até à "entrada principal de gás fóssil em Portugal". "Unidos bloqueamos, resistimos pelo clima" e "Não há planeta B!", foram alguns dos cânticos que entoaram durante o desfile de cerca de três quilómetros da cidade até ao terminal.
A plataforma por justiça climática salienta que é necessário cortar 50% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 para evitar um aumento de temperatura acima dos 1,5ºC (limite estabelecido no Acordo de Paris, em 2015). Face ao alerta, criticam como a REN anunciou um investimento de quase 900 milhões de euros para infraestrutura fóssil nos próximos dez anos.