Maioria das universidades do litoral não abre vagas para esta via de acesso que vai no seu terceiro ano. Defendida maior divulgação do concurso e diversificação da oferta existente.
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Está a decorrer, pelo terceiro ano consecutivo, o concurso especial de acesso ao Superior para diplomados de vias profissionalizantes. São meio milhar de cursos, numa oferta assegurada em 75% por politécnicos. No litoral, a maioria das universidades não abre vagas. No setor, pede-se uma maior divulgação desta via de acesso e diversificação da oferta. Sabendo-se que apenas 18% dos diplomados de cursos profissionais prosseguem para estudos superiores, a maioria de curta duração. No ano letivo de 2018/19, concluíram o Secundário 25,6 mil alunos do profissional, 35% do total.
De acordo com a informação disponibilizada no site da Direção-Geral do Ensino Superior, para o concurso deste ano são disponibilizados 506 cursos, três quartos dos quais oferta dos politécnicos. Do lado universitário, contam-se sete instituições. A Universidade do Porto abre vagas em Ciências da Educação (no ano passado, foram sete) e o ISCTE entra com toda a sua oferta formativa, num total de 22 cursos, a que poderão acrescer mais 11, da Escola de Sintra, em acreditação pela A3ES. Seguem-se Algarve (30), UTAD (25), Açores (17) e Madeira (12).
Umas das razões para as universidades não aderirem ao concurso, que é voluntário, estará no facto de não terem problemas de procura. Isso mesmo admite ao JN o vice-reitor da Universidade de Lisboa, ao afirmar que "não têm existido problemas de atratividade de candidatos através das restantes formas de acesso". Não excluindo "uma reavaliação da posição no futuro próximo", João Peixoto adianta que os cursos da ULisboa "são mais vocacionados" para os alunos do regular e a instituição não dispõe dos "instrumentos necessários à sua concretização".
Em Aveiro, a vice-reitora Sandra Soares destaca o "esforço que a UA tem feito para aumentar a sua capacidade formativa de formação inicial". Valorizando as "iniciativas governativas", até à data, "não foi dada prioridade a esta via de acesso". Já o Minho, limitou-se a dizer que, "tal como em anos anteriores, não foram abertas vagas neste âmbito por opção da universidade".
A Universidade de Coimbra diz "valorizar o desígnio do Governo de "alargar a base social" do Superior". Para o efeito, devem ser criadas condições assentes numa "reflexão interna de base e articulação efetiva com o Ensino Secundário e as escolas profissionais, que não foi ainda passível de uma plena concretização" devido à pandemia.
Comunicar e alargar
O Grupo de Trabalho de Acesso ao Ensino Superior havia já recomendado ao Governo, no relatório do ano passado, uma "campanha de comunicação e informação em determinadas áreas regionais". Ao JN, o presidente da Comissão de Acesso reitera essa necessidade, bem como uma "maior articulação entre o Superior e as escolas profissionais". Defendendo Fontainhas Fernandes o "conceito de fileira formativa".
Do lado das escolas profissionais, José Luís Presa, presidente da ANESPO, concorda com a necessidade de "se fazer um esforço maior em termos de divulgação e de alargar o leque das ofertas formativas, que são bastante restritas". Quanto à oferta universitária, fala numa "situação que não tem justificação, porque os nossos alunos que entram nas universidades são depois considerados excelentes alunos". No que considera ser "um certo preconceito ainda das universidades, que não faz qualquer sentido".
O Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos entende, também, "que há um trabalho grande a fazer de afirmação deste modelo", tanto pelas tutelas como pelas escolas e instituições no terreno. Sobre a oferta, Maria José Fernandes analisa-a tendo em conta "o cariz de ensino profissional com formação mais prática, muito associado ao ensino politécnico".
Questionado pelo JN, o Ministério do Ensino Superior não respondeu.
Em dois anos matricularam-se perto de 1500 estudantes
Anunciado pelo então ministro Manuel Heitor como medida para alargar a base social do Ensino Superior e eliminar desigualdades no acesso, o primeiro concurso especial para titulares de cursos de dupla certificação e de cursos artísticos especializados terminou com 671 alunos matriculados dos 906 admitidos. Naquele primeiro ano (2020/21), ficaram por preencher 74% das vagas postas a concurso. Já no ano letivo passado, candidataram-se perto de 2500 alunos, contando-se 813 matrículas. Por ocupar ficaram 68% das vagas. Excetuando a Universidade do Porto, o ISCTE e o Instituto Politécnico de Lisboa, as instituições agruparam-se em três consórcios (Norte, Centro, Sul e Ilhas), organizando cada um o seu exame único de acesso.