Com mais de três mil bicicletas elétricas e convencionais à disposição, os membros das universidades e institutos politécnicos portugueses estão focados numa mudança que já se nota nas cidades. Graças ao U-Bike Portugal, há 15 instituições de norte a sul onde todos podem dar ao pedal.
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Depois de incontáveis viagens de autocarro entre casa e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Sara Santos, de 31 anos, vai passar a deslocar-se diariamente numa das 265 bicicletas que o projeto U-Bike Portugal cedeu à Universidade do Porto (UP), uma das 15 instituições de Ensino Superior que aderiram ao desafio do U-Bike. Ao todo, são 2096 bicicletas elétricas e 1138 convencionais que alunos, funcionários, professores e investigadores podem usar, "contribuindo para a redução da pegada ambiental das comunidades académicas e para tornar as cidades mais amigas do ambiente", como disse o ministro do Ambiente, Matos Fernandos, na apresentação do projeto na Reitoria da Universidade do Porto.
É com grande entusiasmo que Sara Santos fala da iniciativa, garantindo estar pronta para enfrentar o desafio. Desafio é, aliás, a palavra certa. Porque, tal como explicou Joana Carvalho, a pró-reitora da área do desporto e da qualidade de vida da UP, "os utilizadores devem percorrer uma distância média de sete quilómetros por dia. Distância essa que será registada através de "um sistema exclusivo de monitorização" desenvolvido pela UP, em parceria com o Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel (Ceiia). Um software que, além dos quilómetros percorridos, regista as calorias consumidas e a energia gerada ao pedalar, contabilizando, ainda, as emissões de dióxido de carbono não emitidas. No fundo, trata-se de um sistema que permite "compreender o impacto real do uso das bicicletas e garantir a segurança do equipamento", explica a pró-reitora.
Ir para o trabalho de bicicleta pode e deve ser uma coisa muito prática
Enumerando as vantagens de andar de bicicleta, o reitor da UP, António Sousa Pereira, sublinha que "é preciso mudar o atual modelo de mobilidade, que se centra, sobretudo, no automóvel, com custos elevados para o ambiente, para a saúde e para a qualidade de vida urbana". Por isso, completa, "é tão importante sensibilizar os jovens" para a questão da mobilidade urbana. Tal como Sara Santos, a aluna de doutoramento que trabalha no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Serafim Pereira, 43 anos, vai ser um dos 265 utilizadores a beneficiar, nesta primeira fase de candidatura, das bicicletas cedidas pelo projeto à UP. Habituado a praticar exercício físico, o funcionário da Faculdade de Desporto não hesitou em fazer a candidatura para poder usufruir de uma das 220 bicicletas elétricas - apenas 45 são convencionais - cedidas à academia. "Sempre que posso, vou para o trabalho de bicicleta ou a correr. "Com estas bicicletas vai ser ainda melhor. Porque, se com uma das tradicionais fazia, por exemplo, 40 ou 60 quilómetros e parava, com esta já posso fazer 100", revela o funcionário, adiantando que "ir para o trabalho de bicicleta pode e deve ser uma coisa muito prática". Agora, difícil vai ser parar de pedalar. E Serafim acredita até que pode ser o membro da UP com os melhores resultados. "Vou fazer muitos quilómetros e possivelmente até ganho esta corrida", diz, sorridente.
Mais bicicletas nas cidades
Ao desafio do projeto U-Bike, responderam 15 instituições de Ensino Superior. E muitas fazem já um balanço positivo daquele projeto, que pôs todos a mexer. Em Bragança, o IPBike, que foi apresentado em março deste ano no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), disponibilizou 100 bicicletas. Todas elétricas. Uma iniciativa que fez com que, segundo Ana Isabel Pereira, um dos elementos responsáveis pelo projeto, aumentasse "claramente" o uso da bicicleta como meio de transporte, algo que se percebe pelo "número de bicicletas em circulação" nas cidades de Mirandela e Bragança. "Aumentou visivelmente. Estamos convictos de que a mudança de comportamentos teve início e temos a confirmação de que vários elementos da comunidades optaram pelo uso da IPBike em prol do seu veículo individual motorizado", conclui a responsável. O mesmo acontece, desde setembro, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde, até ao final do ano, "serão distribuídas as 300 bicicletas". Além disso, segundo a instituição, no próximo ano" será construída "uma ciclovia que vai ligar o campus ao centro histórico da cidade".
Muitas inscrições
Na capital, o Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa (UL) juntou-se à iniciativa. Mário Matos, engenheiro responsável pela implementação do projeto no instituto, diz que "as bicicletas ainda não foram entregues porque demorou algum tempo a tratar de questões como o seguro", mas não tem dúvidas de que alunos, funcionários e professores estão recetivos à ideia de passarem a pedalar diariamente. "Temos recebido as incrições pela página do projeto no Facebook e está a correr muito bem", diz o engenheiro, adiantando que "já foram feitas mais de 100 inscrições". Um número que ultrapassa em muito as 20 bicicletas elétricas cedidas pelo U-Bike à instituição.
Contudo, como a iniciativa atribui as bicicletas por diferentes períodos - de seis, nove ou 12 meses -, torna-se aberta a toda a comunidade académica. No total, o U-Bike Portugal, promovido pelo Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e coordenado pelo Instituto de Mobilidade e dos Transportes (IMT), vai contribuir para a redução de 505 toneladas de dióxido de carbono e poupar energia equivalente a 166 toneladas de petróleo. Além disso, o projeto, cujo investimento total é de seis milhões de euros, vai fazer com que alunos, funcionários e professores pedalem mais de dois milhões de quilómetros