Hospitais atingem recordes de procura e tempos de espera disparam. Responsáveis pedem a doentes que liguem ao SNS24 ou recorram ao centro de saúde. Ministro rejeita ideia de caos.
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Ainda não chegou o inverno e as urgências já estão a atravessar o maior pico de infeções respiratórias do ano. Com vários vírus a circular em simultâneo, os serviços de atendimento de adultos e de crianças, de hospitais públicos e privados, têm registado um aumento significativo da procura e os tempos de espera dispararam. Ao final do dia de ontem, o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, registava uma espera média de mais de oito horas para os doentes com pulseira amarela (urgentes). Somam-se os apelos para que os doentes liguem para o SNS24 e recorram aos centros de saúde.
O ministro da Saúde admite que estamos perante uma "pressão aumentada", mas rejeita a ideia de "caos" no SNS. Para Manuel Pizarro, a situação atual não é normal para a época, mas "mimetiza o que aconteceu no hemisfério sul", onde se verificou uma antecipação das infeções respiratórias (ler ao lado).
8386 episódios com pulseira verde da triagem de Manchester na passada segunda-feira, representando 41,46% do total de atendimentos das urgências de todo o país.
Na última segunda-feira - dia tradicionalmente crítico nas urgências do SNS -, registaram-se 21 078 episódios de urgência. Foi o quarto pior dia de um ano que já registou vários picos de procura. Em termos de infeções respiratórias, a última segunda-feira bateu o recorde deste ano. Do total de episódios de urgência registados, 1549 tiveram o diagnóstico de infeção respiratória. A gripe ou o síndrome gripal motivaram 102 idas ao hospital.
Os relatos do terreno confirmam-no. O Hospital de S. João, no Porto, bateu, na segunda-feira um recorde de 1011 episódios nas urgências de adultos, pediátrica e de obstetrícia. Na terça-feira foram 880, muito acima da média de 700 casos por dia. Para este resultado, muito têm contribuído a Pediatria com "um incremento muito significativo das admissões".
Pediatria disparou
"Na última semana, não tivemos nenhum dia com menos de 300 admissões, quando no período pré-pandemia tínhamos 250/280 nos piores dias", detalha Rúben Rocha, diretor daquele serviço no Hospital de S. João. Na última segunda-feira, a procura subiu para os 400 episódios e os tempos de espera "dispararam", reconhece o pediatra. Ontem, ia pelo mesmo caminho. Às 19 horas, os doentes urgentes já esperavam em média mais de duas horas.
O problema é que "quase 50% das admissões foram triadas com pulseiras verdes e azuis", ou seja, poderiam ter tido resposta noutros pontos do SNS. "Quase 70% das crianças chegam ao serviço de urgência sem qualquer referenciação", diz o médico, pedindo aos pais que liguem para o SNS 24 ou recorram ao médico de família.
No Hospital de Santa Maria repete-se o apelo. Na última semana, a afluência média diária às urgências variou entre os 650 e os 700 episódios. Há relatos de várias horas de espera e o hospital explica porquê. No caso dos adultos, são "doentes mais complexos, muitos deles de outras áreas da região de Lisboa e com descompensação de doenças de base". Estes doentes exigem múltiplos exames e há necessidade de procurar informação clínica (por serem de outras áreas de influência), o que cria grande pressão nos serviços e nos internamentos. Por isso, apela "às pessoas com situações menos graves" que procurem respostas nos cuidados primários.
Quatro picos
Segundo informação do Portal do SNS, já houve quatro picos de urgências (acima dos 21 mil episódios) este ano: a 22 de março somaram-se 22 080 casos e no dia 28 do mesmo mês 22 344. A 16 de maio houve 21 278 atendimentos e na passada segunda-feira foram 21 078.
Para lá do inverno
Os picos mostram que urgências pressionadas já não são um problema exclusivo do inverno.
Doentes também esperam horas nas unidades privadas
Os hospitais privados com atendimento permanente também estão pressionados pela afluência de doentes, adultos e pediátricos, e os tempos de espera têm aumentado. Segundo informação disponível no site do grupo Lusíadas, às 18.30 horas de ontem, o Hospital Lusíadas Lisboa apresentava um tempo de espera de 3.55 horas para os casos pouco urgentes da Pediatria (pulseira verde). Os mais urgentes (amarelos) estavam com resposta imediata. No grupo CUF, que também disponibiliza informação sobre tempos de espera, os hospitais CUF Sintra, Descobertas (Lisboa) e Porto estavam todos com mais de 2 horas de espera para atendimento pediátrico (por ordem de chegada) ao final do dia desta quarta-feira.
Ao JN, o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) confirmou o "aumento da afluência, com particular intensidade na Pediatria". Além das infeções respiratórias, há muitos casos de gastroenterites, acrescentou Óscar Gaspar, considerando, contudo, que a situação é normal para a época e que está a ser gerida com serenidade.