Num mês, houve menos 13 mil bebés vacinados em Portugal, que já regista sete casos este ano.
Corpo do artigo
A pandemia está a causar uma queda abrupta na vacinação e os surtos de sarampo são uma ameaça na Europa, registando-se já duas mortes na Bulgária. O alerta é do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. Portugal conta com sete casos nos primeiros dois meses de 2020. Quase tantos quantos foram diagnosticados ao longo do ano de 2019. E há muitos pais a adiar a vacinação contra o sarampo.
O medo de contrair o coronavírus na ida ao centro de saúde levou a uma descida abrupta na administração daquela vacina (a VASPR, que é dada aos 12 meses e aos cinco anos) no nosso país. Entre 15 de março e 15 de abril, o período de maior incidência da pandemia em território nacional, foram administradas menos 13277 vacinas contra o sarampo do que em igual período do ano passado. A vacinação das crianças é prioritária e esse apelo tem sido repetido pela Direção-Geral da Saúde [ler caixa], mas as estatísticas de monitorização da imunização, disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Saúde, mostram um efeito diminuto na VASPR.
circuitos separados
E esse comportamento repete-se pela Europa. "O combate à Covid-19 está a afetar a vacinação das crianças", conduzindo ao "atraso e à interrupção" do cumprimento dos planos de vacinação, incluindo na administração da vacina contra o sarampo, avisa o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças no último relatório, publicado a 18 de abril, que contabiliza mais de 1500 casos de sarampo nos primeiros meses deste ano em solo europeu, com especial incidência na Bulgária e na Roménia. Espanha regista 67 casos, Itália tem 86 e França 161.
O foco na pandemia ditou a suspensão da administração de vacinas em vários países (como a Bulgária), enquanto noutros , incluindo em Portugal, são os utentes que adiam a vacinação com medo de entrar nos centros de saúde e de contrair o coronavírus. O risco de não vacinar um bebé ou uma criança é muito maior do que a hipótese de contrair a Covid-19 numa unidade de saúde pública, sublinham os especialistas.
"O problema da Covid-19 é precisamente por não termos uma vacina. As vacinas são fundamentais e as pessoas não devem temer a ida ao centro de saúde. É o maior risco de não tomar a vacina do que o risco de contágio, porque os doentes com sintomas respiratórios estão separados dos restantes doentes. Têm circuitos separados", explica Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
Também Teresa Fernandes, coordenadora do Plano Nacional de Vacinação que tem recebido e-mails de pais preocupados a ponderar o adiamento da vacinação, defende que não o façam. "Os serviços estão a listar todas as pessoas com as vacinas em atraso e vão convocá-las de forma organizada, para não haver aglomeração nas salas de espera. A regra de ouro da vacinação é de que ninguém fica para trás", frisa.
Rui Nogueira sublinha o esforço dos Cuidados Primários na marcação de horários precisos para a vacinação, evitando a permanência na sala de espera, e pedindo-se aos utentes para trazerem só um acompanhante. "Quando faltam à vacina, são contactados para reagendá-la. Ainda assim, às vezes, não conseguimos que as pessoas venham à unidade de saúde".