Desde maio, vacinação evitou 200 mil novas infeções e 2300 óbitos. Peritos recomendam acelerar a terceira dose e retomar medidas de setembro para evitar descontrolo.
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A elevada taxa de vacinação contra a covid-19 em Portugal evitou 200 mil novas infeções e 2300 mortes desde maio e deixa o país numa situação "muito melhor" do que há um ano.
Ainda assim, a incidência está a crescer em todo o país e a pressão vai aumentar nos hospitais. Para controlar a transmissão é preciso retomar medidas deixadas em setembro e, mais importante, acelerar a terceira dose da vacinação, avisaram, ontem, os peritos na reunião no Infarmed. O problema é que a nova norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) veio exigir um esforço redobrado: é preciso vacinar mais 1,8 milhões de pessoas até ao Natal. E, sem um reforço de meios, não será possível.
O alerta foi deixado pelo coronel Carlos Penha-Gonçalves. Segundo o novo coordenador do plano de vacinação, o alargamento da população-alvo a imunizar com a dose de reforço, anunciado anteontem pela DGS, corresponde a um milhão de pessoas maiores de 18 anos que receberam uma dose da Janssen, 600 mil com mais de 65 anos com esquema vacinal completo há cinco meses e 200 mil também maiores de 65 anos e recuperados da doença.
"Isto duplica o esforço que tínhamos planeado inicialmente para este período", afirmou Carlos Penha-Gonçalves, sublinhando que "a duplicação da capacidade não acontece instantaneamente". "Precisamos de um reforço da estrutura de coordenação" e "do dispositivo que administra as vacinas no terreno", disse.
Os partidos da Oposição, presentes na reunião, aproveitaram o aviso para reclamar mais meios humanos para os centros de vacinação, mas também para os centros de saúde, hospitais e unidades de saúde pública. Refira-se que a este novo grupo de pessoas a vacinar, há que somar entre 640 mil a um milhão de pessoas com mais de 65 anos (consoante a adesão seja de 80% ou de 100%) que ainda falta imunizar, o que implicará administrar 35 mil doses por dia.
Evitar sobrecarga nas UCI
A importância de se atingir o objetivo até ao Natal foi reforçada por Baltazar Nunes. O epidemiologista do INSA sustentou que temos de vacinar todos os maiores de 65 anos antes do final de dezembro para não atingirmos o limiar das 255 camas de cuidados intensivos com doentes covid-19. Quando esta "linha vermelha" é ultrapassada compromete-se a assistência aos doentes com outras patologias.
Ainda sobre as vacinas foram apresentados vários estudos que comprovam o seu efeito na redução da incidência, nos internamentos e na mortalidade. Ausenda Machado, do INSA, sublinhou que a efetividade das vacinas contra a infeção é superior a 50% e contra a hospitalização é superior a 80%.
A reunião teve "acento tónico na vacinação" - como sintetizou o presidente da República à saída, antes de reunir com António Costa, que recebe os partidos na terça e quarta-feira e tomará decisões no dia seguinte em Conselho de Ministros. Mas também serviu para os peritos que aconselham o Governo proporem medidas, gerais e específicas, para conter a quinta vaga (ler ao lado).
Maior controlo nas fronteiras, máscaras, teletrabalho e autotestes antes de convívios familiares foram algumas das recomendações deixadas.