Em Gaia e no Porto contingente do SNS já esgotou. 340 mil vacinados extra centro de saúde. Doses encomendadas pelos farmacêuticos só chegam na segunda quinzena deste mês.
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Quinze dias depois de começar a segunda fase de vacinação contra a gripe, as farmácias continuam sem mãos a medir para satisfazer a procura de vacinas. Já imunizaram mais de 340 mil utentes, segundo fonte do setor - com vacinas próprias e do Serviço Nacional de Saúde (SNS) - mas os stocks estão nos limites.
A reposição das vacinas do SNS está a ser feita a conta-gotas e há concelhos, como o Porto e Gaia, onde o "plafond" de doses a administrar gratuitamente nas farmácias já esgotou. As vacinas para venda também tardam em chegar: o próximo reforço está previsto para a segunda quinzena de novembro.
Segundo informação enviada pela Direção-Geral da Saúde ao JN, até dia 27 de outubro, foram vacinadas gratuitamente cerca de 531 mil pessoas, nos centros de saúde e farmácias comunitárias, "um ritmo de vacinação superior ao dos anos anteriores". Aos centros de saúde vão chegar a partir desta segunda-feira mais 190 mil doses de vacina. E às farmácias já chegaram 100 mil, acrescenta a DGS.
Entregues 15 por dia
Este ano, as farmácias foram chamadas a ajudar os centros de saúde na imunização contra a gripe. Além das vacinas que todos os anos comercializam, recebem 200 mil do contingente do SNS para administrar às pessoas com mais de 65 anos. O utente não paga nada e o custo com a administração do fármaco (2,5 euros) é assumido pelos municípios e associação Dignitude. Nalguns concelhos, o "plafond" contratualizado pelas câmaras já esgotou e, segundo a DGS, não está previsto ser aumentado.
Depois de uma primeira entrega mais substancial, as vacinas do contingente do SNS estão a chegar a conta-gotas às farmácias: 15 por dia, quando chegam. E "desaparecem" num instante porque a lista de pedidos é imensa. Há reservas desde julho e os utentes ligam a toda a hora a perguntar se já podem tomar a vacina. Outros percorrem dezenas de farmácias atrás daquele fármaco que, este ano, está a ser especialmente recomendado para evitar a confusão de sintomas da gripe com os da covid-19.
Mais reservas do que doses
Prevendo a procura, as farmácias tentaram acautelar-se, dobrando ou até triplicando os pedidos face às vendas do ano anterior. "Encomendámos 1400 vacinas, mais do dobro do ano passado, mas os armazenistas já nos disseram que só devem conseguir entregar até 720. E temos 1501 reservas", explica Miguel Branco, farmacêutico adjunto da Farmácia Gramaxo, na Maia. A próxima tranche chegará na segunda quinzena de novembro, segundo informação dos armazenistas a várias farmácias contactadas pelo JN. "As pessoas ligam todos os dias a perguntar pelas vacinas, há uma grande ansiedade", reporta Luísa Branco, irmã de Miguel e diretora técnica da mesma farmácia.
Quanto às vacinas do contingente do SNS, se mais houvesse mais se distribuíam. Os utentes que já tinham o hábito de se vacinarem na farmácia ficam admirados por não pagar nada no final. Outros mudaram a rotina e escolhem tomar a vacina na farmácia.
"Temos utentes que sempre se vacinaram no centro de saúde e este ano preferiram a farmácia. Aqui as pessoas sentem segurança", realça Luísa Branco. "Se viessem mil vacinas [do SNS] não sei se chegavam", atira o irmão, considerando que o projeto tem várias vantagens: "é benéfico para os utentes, liberta os centros de saúde e é benéfico para as farmácias que têm o gosto de servir o utente", apesar do preço pago pelos municípios (2,5 euros) não cobrir as despesas.
Na Farmácia S. Mamede, em Matosinhos, há seis farmacêuticos com certificação para administrarem injetáveis. Trocam de máscara a cada imunização e podem fazer até quatro por hora. "É um valor simbólico", admite a diretora técnica Amélia Sousa. É proprietária de outra farmácia, em Gaia, e já lhe disseram que, naquele concelho, foi atingido o limite de tomas que a Câmara acordou pagar às farmácias. No Porto aconteceu o mesmo.
Registo partilhado com SNS
Para evitar "ajuntamentos", as farmácias estão a marcar hora. Os utentes chegam, medem a temperatura, tomam a vacina e, no final, é feito o registo num programa informático que partilha com o SNS, evitando que o centro de saúde chame pessoas já vacinadas.
Na Farmácia S. Mamede, Amélia mostra o monte de talões que correspondem às reservas de vacinas da gripe. No frigorífico ainda sobram algumas doses, mas todas têm utente destinado. Vão continuar a chegar, mas duvida que os fornecedores consigam entregar todas as que pediu. É possível que a vacina não chegue a todos, mas a diretora técnica acredita que, no final, "a taxa de vacinação será superior à de outros anos".