Diferenças ultrapassam os 300 euros. Apesar do aumento das taxas de juro, quando se escolhe um novo lar, fica mais barato ter um empréstimo ao banco.
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O que é mais rentável? Comprar ou arrendar uma casa? Esta tem sido, desde sempre, a pergunta cada vez que decidimos dar o passo de sair de casa dos pais ou arriscar viver com maior independência.
Agora que a inflação está a níveis exorbitantes, em máximos desde há 30 anos, e o Banco Central Europeu decidiu aumentar as taxas diretoras este mês para 0,25%, a dúvida ainda é maior. Como seria de esperar, a resposta certa é sensível, pois depende de muitas variáveis, como o sítio, o tipo de casa, o perfil do inquilino ou proprietário e a situação económica do momento.
Assim de repente, de calculadora na mão, é mais barato fazer um empréstimo para adquirir uma casa do que optar por arrendá-la, e a poupança é mais significativa nas regiões periféricas das grandes cidades. Por exemplo, de acordo com dados do portal imobiliário Idealista, o preço de venda por metro quadrado no Porto situou-se nos 3063 euros em junho.
O preço de arrendamento médio na Invicta está nos 11,4 euros por metro quadrado. Assumindo que se pretende arrendar uma casa de 80 metros quadrados, ter-se-ia de pagar mensalmente 912 euros ao senhorio. No caso de querer comprar a mesma casa, o valor a despender seria de 245 000 euros. Em geral, os bancos concedem um financiamento de 80% do valor da compra, pelo que o empréstimo teria de ser no valor de 196 000 euros. A fatura mensal ao banco seria de 560 euros. São 352 euros por mês a menos do que se optasse por arrendar a casa. O senão é que, quem compra, tem de ter 20% para dar de entrada para a habitação. É esse o principal problema para quem quer comprar casa, principalmente os mais jovens ou os que querem constituir família.
Produtos obrigatórios
Os empréstimos à habitação levam consigo produtos que os bancos "obrigam" a associar, como seguros, cartões e outros que, no final, aumentam o custo mensal. Não esquecer ainda que ser proprietário de uma casa acarreta o pagamento anual do IMI e outros encargos, como o condomínio e obras extras que sempre surgem.
O valor do IMI, neste caso, seria de 792 euros anuais (66 euros por mês), sendo que teria ainda de pagar o condomínio, que é muito volátil, mas anda, em média, nos 60 euros mensais.
Ou seja, aos 560 euros da mensalidade ao banco, teria custos associados que chegariam aos 686 euros. Com os seguros obrigatórios, teria de acrescentar, no mínimo, mais 60 euros mensais. O total de encargos por ter uma casa subiria para os 746 euros por mês. Recordando que, para arrendar pagaria 912 euros, a diferença continua a compensar.
Mas no arrendamento, também há que fazer um esforço financeiro em forma de fiança e pagamento de meses adiantados. Mesmo assim, os custos extra são bastante inferiores.
Melhor investimento
Miguel Poisson, CEO da Portugal Sotheby"s, considera que, "do ponto de vista financeiro e de investimento, a aquisição de uma casa apresenta-se como a melhor opção", uma vez que no caso de arrendamento apenas "representa o preço final pago pela utilização temporária de um bem".
O especialista em imobiliário explica que a aquisição da habitação "tem como principais vantagens representar um investimento seguro no longo prazo, uma poupança forçada, e nesse sentido uma preparação para a reforma".
Por outro lado, na hora de saber se é melhor comprar ou arrendar, uma das regras de ouro é conhecer o PER (Price Earnings Ratio). Este palavrão em inglês calcula o número de vezes que a renda anual do arrendamento é necessária para pagar o imóvel. Calcula-se dividindo o preço da casa com o preço anual do arrendamento. Por exemplo, se uma casa custa 240 mil euros e, por ano, se paga 11 mil euros de renda, o PER é de 22 anos. Ou seja, se está a pensar ficar na casa por menos de 22 anos, o melhor é arrendá-la. Se não, o melhor é comprá-la.
Custo continua a subir apesar da guerra na Ucrânia
Na hora de escolher entre comprar e arrendar também influencia a evolução futura dos preços das casas. Ainda que os valores de compra e do arrendamento subam ou desçam em paralelo, a operação de compra pode ter variações menos bruscas que o arrendamento, já que a possibilidade de aumento das rendas é atualmente um grande risco ao longo dos anos. Os preços da habitação estão já há algum tempo a subir a níveis próximos da "bolha imobiliária" verificada no início do milénio e que terminou com a crise das dívidas soberanas, em que Portugal foi obrigado a resgate internacional até 2014. Só no primeiro trimestre deste ano, o preço médio das casas aumentou 12,9% comparando com o mesmo trimestre do ano passado, segundo dados do INE.
Para Miguel Poisson, CEO da Portugal Sotheby"s, esta situação verifica-se porque "a procura é superior à oferta" e a única forma de contrariar esta tendência "é fazer com que cheguem ao mercado mais imóveis para venda, mas para que isso aconteça é necessário que os licenciamentos sejam mais rápidos e eficientes". Apesar da perda do poder de compra devido à crise inflacionária e à guerra na Ucrânia, Ricardo Sousa, CEO de Century 21, acredita que, em termos gerais, os preços vão continuar a subir porque "estamos há mais de uma década a construir pouquíssimas casas novas, muito abaixo das necessidades do país".