A Santa Sé autorizou a igreja em Portugal a disponibilizar os arquivos históricos existentes em cada diocese à equipa de historiadores e arquivistas que estão a estudar os abusos sexuais. A novidade foi avançada por Pedro Strecht, o coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, numa conferência sobre o tema realizada esta quarta-feira em Braga.
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A equipa de historiadores e arquivistas, liderada por Francisco Azevedo Mendes, vai estudar a vida da Igreja ao longo dos séculos, "com o objetivo de chegar, de forma inequívoca ao esclarecimento e à verdade dos factos através do estudo dos Arquivos Históricos existentes em cada diocese, num trabalho de colaboração e confiança mútua com cada bispo diocesano", explicou Strecht.
Com as denúncias de abusos quase a chegar às três centenas e meia, o coordenador da comissão não tem dúvidas de que as vítimas são "centenas e centenas". "Temos relatos diretos de pessoas que afirmam, com nomes e datas, que outras pessoas também foram abusadas na mesma altura que elas", e estes abusos "também são contados", afirmou.
"Asquerosos acontecimentos"
Entre as denúncias, Pedro Strecht recordou as que chegaram à comissão vindas de emigrantes portugueses que residem no estrangeiro e até de cidadãos estrangeiros que, enquanto crianças e de férias em Portugal, também denunciaram abusos.
Sobre os 16 casos, não prescritos, enviados ao Ministério Público, Daniel Sampaio, também da Comissão Independente, espera que sejam tratados "rapidamente e com justiça".
D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, presente na conferência, pediu perdão às vítimas e disse não ser possível tolerar "a conspiração do silêncio nas igrejas". "O silêncio é o segundo maior inimigo das vítimas perante os asquerosos acontecimentos cometidos pelos abusadores", disse.
"Uma prioridade para a igreja"
Em breve, uma delegação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) vai realizar uma "reunião conjunta de trabalho" com "alguns Dicastérios da Santa Sé" no contexto da "colaboração entre as Igrejas locais e as estruturas da Igreja universal" sobre os abusos sexuais por membros da Igreja.
Em comunicado, a CEP refere que "a luta contra os abusos sexuais por parte de membros da Igreja ou no âmbito das suas atividades é uma prioridade para a Igreja" e que "a Conferência Episcopal Portuguesa tomou a iniciativa de criar uma Comissão independente para estudar este tema".
"Sendo esta uma prioridade que interessa a toda a Igreja, torna-se oportuna e necessária a colaboração entre as Igrejas locais e as estruturas da Igreja universal que se ocupam deste tema a nível global", finaliza.