Por se ter provado a prática de abusos sexuais, o Vaticano expulsou 848 padres em todo o Mundo entre 2004 e 2014.
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Os números são os últimos dados conhecidos sobre a relação entre a prática de abusos (não só de crianças, mas também de adultos) dentro de instituições da Igreja e foram divulgados, pela primeira vez, nas Nações Unidas, há dez anos. Desde aí, o Vaticano e o Dicastério para a Doutrina da Fé nunca mais revelaram dados sobre este tema.
No período entre 2004 e 2014, foram investigados 3420 padres. Além dos que foram expulsos, 2572 sacerdotes foram admoestados e instruídos a viver uma vida de oração e "arrependimento". Muitos deles foram enviados para locais ermos para que levassem uma vida "isolada" num mosteiro ou numa ordem religiosa, sempre afastados de crianças e jovens.
Processo é complexo
As denúncias sobre abusos chegam a Roma enviadas por dioceses do Mundo inteiro. Antes de chegar ao Vaticano e ao Dicastério para a Doutrina da Fé, as entidades competentes para investigar as denúncias de abuso são, de acordo com o Direito Canónico, os bispos diocesanos e o superior religioso, no caso de se tratar de uma congregação.
Em todas estas instâncias, o processo é complexo. Normalmente, o bispo diocesano ou o responsável pela ordem religiosa delega o apuramento dos factos, a recolha de testemunhos e provas, bem como a inquirição da vítima e do agressor em pessoas idóneas da sua confiança. O relatório elaborado por cada diocese é depois enviado para a Santa Sé, onde é aberto um novo processo.
Quanto a padres portugueses que tenham sido expulsos e demitidos do estado clerical (na prática, deixando de ser padres), não há números. Fonte da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) garante ao JN que os dados referentes a este assunto "só estão disponíveis e só podem ser disponibilizados" pela Santa Sé.
O JN pediu estes dados ao Vaticano, mas, até agora, não obteve resposta. "Há padres que querem, eles próprios, ser demitidos do estado clerical sem que nada tenha a ver com a prática de abusos", finalizou a mesma fonte.
Denúncias serão vistas caso a caso
A comissão independente entregou uma lista de cerca de cem padres suspeitos de abusos, que foi enviada às dioceses. Segundo D. José Ornelas, "é uma lista de nomes, sem outra caracterização", que será agora analisada "caso a caso" para tentar saber quem são os sacerdotes e quais as suspeitas. Só depois "se verá se são afastados da Igreja". "Não posso retirar alguém do ministério só porque alguém disse algo. Tem de ser investigado e minimamente provado", disse o presidente da CEP.