A retoma do turismo para níveis idênticos aos anteriores à pandemia é ainda uma miragem, mas, quase no início do verão, nas duas maiores cidades portuguesas. No Porto, as embarcações turísticas retornaram ao Douro, tal como os autocarros panorâmicos e em Lisboa já se veem tuk-tuks pelas ruas, mas a falta de clientes faz com que o regresso seja mais simbólico do que lucrativo.
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A retoma do turismo para níveis idênticos aos anteriores à pandemia é ainda uma miragem, mas, quase no início do verão, nas duas maiores cidades portuguesas, já há sinais de uma tentativa de aproximação ao cenário anterior a 2020. Em Lisboa, os tuk-tuks, que praticamente tinham desaparecido, estão de volta às ruas, tal como os go cars e outros veículos de animação. No Porto, também as viagens nos autocarros panorâmicos voltaram a ser possíveis, assim como os passeios de barco no Douro. Mas, como o JN Urbano constatou, os operadores queixam-se da falta de clientes e são obrigados a baixar preços para mínimos que garantam a sobrevivência.
Inês Henriques, presidente da Associação Nacional de Condutores de Animação Turística (ANCAT), pinta um retrato negro sobre o último ano e meio. "Cerca de 80% dos profissionais optaram por cessar ou suspenderam temporariamente a atividade. Estiveram parados durante os confinamentos, não receberam apoios e tiveram de passar a exercer outra atividade para sobreviver", revela. "O lucro foi zero e tivemos condutores a quem não restou outra solução que não vender as suas viaturas", acrescenta.
Só no verão de 2022 será possível regressar aos níveis de atividade pré-pandemia
Com o verão a aproximar-se, Inês não perspetiva grandes melhorias. "A retoma tem sido a conta-gotas. A procura é escassa, sobretudo por parte de poucos estrangeiros", conta. "Os portugueses quase nada recorrem aos nossos serviços. Aliás, a campanha que procurou estimular o turismo interno não surtiu efeitos", lamenta.
Para tentarem cativar clientes, os condutores de animação turística têm recorrido a várias estratégias, nomeadamente tornando os preços das viagens mais baratos, adaptando-os às necessidades de quem os procura. A presidente da ANCAT acredita que "só no verão de 2022" será possível regressar aos níveis de atividade pré-pandemia. "A situação continua muito instável em termos sanitários. Além de que Portugal está muito dependente dos corredores aéreos internacionais, que, como vimos recentemente, com a decisão do Reino Unido, também não oferecem quaisquer garantias de perspetivas de estabilidade", explica.
No Porto, a oferta de atividades para turistas ainda tem pouca procura. Basta circular pelas zonas mais concorridas da cidade para perceber que a movimentação está longe de se assemelhar à realidade pré-pandemia. Os visitantes são escassos, os serviços a eles destinados também.
Dantes, praticamente não havia lugares vagos. Hoje é raro termos passageiros
Na Avenida dos Aliados e na Praça da Liberdade, pontos nevrálgicos da Baixa, os autocarros turísticos são o único sinal de que a atividade não morreu completamente. Mesmo assim, circulam praticamente vazios e esperam pacientemente que a viagem seguinte traga melhores notícias. "Dantes, praticamente não havia lugares vagos. Hoje é raro termos passageiros. Os poucos que entram são estrangeiros e ainda não se veem muitos pelo Porto", resume Marlene Camões, da Yellow Bus, que efetua quatro saídas diárias.
Na mesma fila, e também parado à espera de clientes, outros três autocarros aguardam igualmente a entrada de passageiros. Os responsáveis preferem não falar de uma realidade que lhes tem corroído os dias. O único que o faz, mesmo assim preferindo não se identificar, aponta para uma média de "quatro bilhetes vendidos em cada uma das duas viagens programadas para cada dia da semana".
Na Ribeira, a concentração de turistas é maior e já enche as esplanadas. Mesmo assim, tal não se reflete nas viagens de barco pelo Douro que ali têm ponto de partida. As embarcações mantêm o ritmo diário de viagens, a clientela é essencialmente estrangeira. As empresas ouvidas pelo JN Urbano lamentam que nem mesmo com a lotação reduzida devido a questões sanitárias a procura seja significativa.
Antes dava para todos, agora não, muito longe disso. Se fizer uma viagem por dia já fico contente
O cenário é idêntico em Lisboa. Os tuk-tuks, go cars, yellow bus, entre outros transportes de animação turística, começam aos poucos a regressar às ruas, mas, onde há mais concorrência, é preciso "batalhar" por clientes. "Antes dava para todos, agora não, muito longe disso. Se fizer uma viagem por dia já fico contente", nota Filipe Fonseca, na Praça da Figueira. Regressou há uma semana e meia porque tinha uma reserva de turistas alemães. Na rua é obrigado a baixar os preços. "Passo de 80 para 60 euros, ou até para 40, mas por este valor já não conto os pormenores todos da história da cidade", explica.
Sandra Gil tem feito duas tours por dia e também sente dificuldades. "Os portugueses foram os primeiros a aparecer, mas têm poder de compra mais baixo", diz. Há tuk-tuks parados nas garagens que já não vão sair e muitas empresas vão fechar.
Estacionado na Praça da Figueira, no lado oposto aos tuk-tuks, o autocarro turístico Yellow Bus espera por clientes. Os passeios em Lisboa retomaram a 28 de maio com "procura moderada" por espanhóis, franceses, italianos, alemães, britânicos e americanos, explica Adriana Real. Os pequenos triciclos amarelos ou minicarros, com três rotas definidas por GPS, também voltaram à rua no mês passado, mas "ainda é um número residual, um a três por dia", diz João Salavessa da GoCar Tours. "As bicicletas e scooters têm tido mais adesão", observa.
O Hippotrip, autocarro que entra na água, e o HippoSpeed, uma lancha que anda pelo rio Tejo, começaram a circular aos fins de semana, mas a partir do próximo mês haverá passeios diários. "Existe uma vontade significativa dos clientes de saírem de casa e de se divertirem", afirma Alexandra Silvestre, da empresa.
Os passeios de barco no Tejo voltaram no início do mês. Além de espanhóis, franceses e ingleses, há mais portugueses a procurar os barcos, principalmente jovens adultos com crianças, explica Ricardo Moita, CEO da Lisboat