A dois meses do início do calendário das principais feiras de fumeiro em Trás-os-Montes (Boticas, Montalegre e Vinhais) há uma certeza: nada será como dantes. Se a pandemia de covid-19 abrandar, poderão ser organizados alguns eventos físicos. Mesmo assim, muito condicionados e sem animação. Mas a venda através de plataformas na Internet está aí para ficar.
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David Teixeira, vice-presidente da Câmara de Montalegre, teria preferido que a ideia que há muito defende não fosse imposta pelo vírus que assusta o Mundo. Mas como ninguém tem como prever a situação do país em janeiro, é melhor ter um plano A e um B, ou mesmo um C.
O A seria fazer uma feira no pavilhão municipal. Dificilmente igual ao que era, com milhares de pessoas a passar pelo recinto. O B, e o mais certo, seria um misto dos dois, com feira física condicionada e venda através da Internet. E um C, só virtual, no caso de a pandemia se agravar tanto que fosse de todo impossível realizar qualquer versão no pavilhão.
Para já, a única certeza é que a Câmara de Montalegre, em parceria com a Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã, vai criar a plataforma "Fumeiro de Montalegre" na Internet. Foi apresentada ontem aos produtores do concelho e vai começar a funcionar em janeiro.
O objetivo é "conquistar novos mercados", "transformar isto num negócio efetivo durante três a quatro meses", frisa David Teixeira, e "não apenas durante os quatro dias da feira" em finais de janeiro.
Os vários produtores de fumeiro do concelho de Montalegre não esconderam algum receio de que o negócio na Internet venha a ser inferior àquele que conseguiam na feira em tempos normais. Mas têm consciência de que a pandemia obriga a arregaçar mangas e a descobrir novos canais de escoamento. "Novas formas de chegar aos consumidores", insistiu o autarca, porque não vender o fumeiro produzido seria uma "tragédia económica para as famílias". Com receio do que poderá vir, Preciosa Canto já não vai abater 20 porcos, quantidade num ano normal, "talvez só 15", enquanto Rosa Moura deve manter os "mesmos 30 animais" do costume, até porque estão a ser criados desde o início do ano. Só que "são para abater à medida que se for vendendo", completa o marido, Boaventura Moura. Todos têm já clientes à espera da nova produção e estão a torcer para o vender todo, pois para isso trabalharam ao longo do ano. "É disto que vivemos, não é?"
O produtor José Maria Pereira, desiludido por ter pensado que a pandemia "durava dois ou três meses", está convencido de que, havendo feira, "se todas as regras forem cumpridas, ninguém ficará infetado".
O mesmo acontecerá nas cozinhas tradicionais, onde se vende muita da produção. É o caso da de Joaquina Costa, que, com os "porquinhos" criados para a feira, diz estar "preparada para o que vier". Pelo menos "três já foram mortos e vendidos" e mais dez hão de ir pelo mesmo caminho. E, "se Deus quiser, tudo vai correr bem".