Ano ainda é negativo, mas junho e julho foram os melhores de sempre no comércio. Tentativa de fuga ao vírus e fácil mobilidade explicam subida.
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Os meses de confinamento causaram um forte abalo na venda de motas, mas o setor está em franca retoma. De acordo com os dados da Autoinforma, da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), os meses de junho e julho foram os melhores desde que há estatísticas e superaram, em 27,7% e 13,8%, respetivamente, os mesmos meses do ano passado. Ainda não chegou para reparar as perdas, mas o ano está em recuperação.
No ano passado, em junho, venderam-se 3217 motociclos. Este ano, o número subiu para 4109. Em julho, tinham-se vendido 4210 motas, mas este ano o número de matrículas novas subiu para 4789, segundo a ACAP. A maioria das vendas, num e noutro mês, correspondem a motociclos cuja cilindrada é superior a 50 cm3 (centímetros cúbicos), mas não superior a 125 cm3. Já na categoria de média e alta cilindrada, superior a 125 cm3, a subida é mais ténue.
Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, explica que o aumento das vendas no verão era um fenómeno esperado pois "apareceram novos modelos" e "as duas rodas são uma boa alternativa" em termos de mobilidade urbana. São compradas por quem larga o carro e o trânsito, mas também para quem quer uma alternativa por receio do transporte público devido à pandemia.
O secretário-geral não acredita que o aumento das vendas em período de desconfinamento seja só um reflexo da procura adiada nos meses em que os stands estiveram fechados. Se assim fosse, explica, "também nos automóveis se tinha verificado essa tendência" de subida, mas os ligeiros de passageiros tiveram uma quebra de 56% nas vendas de junho e de 17,5% em julho, comparativamente aos mesmos meses do ano passado.
Ou seja, este é um fenómeno exclusivo das duas rodas e a pandemia ajuda a explicá-lo. Por ser um meio de transporte mais solitário, é "menos potenciador da propagação do vírus", conclui Nuno Castel-Branco, diretor-geral do site Standvirtual, que registou um crescimento de 34% da procura por motas, nos meses de junho e julho, comparativamente aos mesmos meses do ano passado. As motas de cilindrada mais baixa são as mais procuradas no Standvirtual e foram também as que tiveram a maior subida.
A crescente procura também está a ser sentida nos stands. A Moto Espinha, de Guimarães, confirma que em junho e julho "houve muitas encomendas".
ANO NO VERMELHO
Apesar de as vendas terem atingido um máximo em junho e julho, ainda não chegaram para dirimir o abalo causado pelos meses de confinamento. Nos primeiros sete meses de 2020, as vendas ainda são menores em 8,1%, correspondentes a menos 1542 motas vendidas.
O ano de 2020 até tinha começado bem, com janeiro e fevereiro a superarem os meses homólogos em 15% e 14%, respetivamente, mas em março a quebra já foi de 27,3%. Em abril, o mercado foi ao fundo e ficou 77,5% abaixo do mês homólogo, ao passo que maio ficou 28,2% abaixo.
A expectativa do setor é que o ano termine em estagnação, tendo em conta que os meses de outono e inverno já têm, por tradição, um baixo número de exemplares vendidos e, consequentemente, um peso reduzido nas vendas anuais. Agosto e setembro serão, por isso, decisivos.