Farmácias venderam quase um milhão de suplementos e medicamentos com aquela molécula. DGS vai analisar novas orientações de sociedade científica.
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As vendas de suplementos e medicamentos para combater a insuficiência de vitamina D têm aumentado todos os anos, mas o ritmo de crescimento abrandou no pós-pandemia. Se nos anos 2020 e 2021, cresceu, essencialmente, a procura por suplementos de vitamina D, em 2022, ano em que foram vendidas quase um milhão de embalagens, as vendas cresceram à custa dos medicamentos com esta molécula, o que poderá indicar um maior acompanhamento médico.
Os benefícios desta vitamina têm sido reportados em vários artigos científicos e, na semana passada, o Grupo de Estudos da Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) apresentou novas orientações que reveem a evidência publicada, alargam os grupos-alvo definidos, recomendam rastreios e suplementação em idosos e obesos (ler caixa). Questionada pelo JN sobre a aplicação destas orientações, a Direção-Geral da Saúde (DGS) mostrou-se disponível para as analisar, quando forem publicadas. Sugerindo, porém, que nem todos os estudos têm qualidade.
"A Direção-Geral da Saúde tem vindo a analisar as mais recentes publicações científicas, assim como a qualidade das evidências que as suportam", referiu. Na resposta, a DGS refere que "irá naturalmente analisar as recomendações da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, quando publicadas".
Suplementos dispararam
À boleia do pânico gerado pela covid-19, mas também de uma maior consciencialização dos profissionais de saúde e dos doentes para a importância da vitamina D, o mercado não pára de crescer. Em 2022, foram vendidas 980 135 embalagens de medicamentos e suplementos de vitamina D, um aumento de 4,6% face ao ano anterior, segundo dados enviados ao JN pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde da Associação Nacional de Farmácias. Entre 2019 e 2020, as vendas subiram 9,5% e, de 2020 para 2021, 5,7%. O mercado dos medicamentos (associações com vitamina D, excluindo com o ácido alendrónico e com o ácido ibandrónico), representa 87,5% do total (857 722).
Apesar de pesarem menos no total, as vendas de suplementos tiveram subidas expressivas, sobretudo nos anos pandémicos. De 2019 para 2020, as vendas dispararam 162,4% para um total de 96.912 embalagens.
A corrida aos suplementos de vitamina D poderá explicar-se pelos estudos publicados à época sugerindo uma associação entre o défice de vitamina D e a covid-19 grave, que acabaram por não reunir consenso científico. De 2020 para 2021, as vendas de suplementos cresceram 23,4% e em 2022 quase estagnaram (1,6%).
SABER MAIS
Novos grupos de risco
Todas as pessoas com mais de 65 anos, os obesos, as grávidas e os bebés prematuros devem ser considerados grupos de risco para insuficiência de vitamina D e, portanto, tomar suplementos e monitorizar os níveis desta molécula no sangue, defende um grupo de estudos da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia.
Avaliação de crianças
Para as crianças, o mesmo grupo de estudos recomenda a avaliação e vigilância daquelas que apresentam valores próximos da insuficiência desta vitamina.
Razões para carência
O estilo de vida sedentário, aliado a uma fraca exposição solar e a uma alimentação pobre em vitamina D, contribui para baixos níveis daquela hormona considerada fundamental para a saúde óssea, mas também no equilíbrio do sistema imunitário.
66% têm défice
Segundo um estudo feito para a população portuguesa, 66% das pessoas têm deficiência de vitamina D, das quais 21% têm deficiência grave.
Toxicidade
A suplementação excessiva de vitamina D pode ser tóxica e causar efeitos adversos a nível gastrointestinal e renais, e níveis elevados de cálcio no sangue que podem conduzir à obstrução das artérias.