Ventilador português ultrapassou "burocracia" e já tem encomendas no estrangeiro
O primeiro ventilador português com certificação europeia saiu, ontem, da fábrica na Póvoa de Varzim. Já há encomendas para a República Checa e o Brasil está na calha.
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Para a empresa Sysadvance, que o produz, é um novo nicho de negócio depois de um ano de pesquisa e muita "burocracia". Para a Ordem dos Médicos, "um passo importantíssimo" para que Portugal não fique dependente de terceiros no combate à pandemia.
"Termos um ventilador altamente diferenciado, específico para cuidados intensivos, é importante para a nossa autonomia", afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acrescentando que o Sysvent OM1 "ficará para a história da pandemia".
A nova linha de produção em série já está pronta. Pode produzir dez por dia, que podem ser estendidos a 60. A República Checa fez uma encomenda-teste de dois. O Brasil está interessado e o processo de equivalência iniciado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já decorre.
"É um equipamento que pretende cruzar a fiabilidade, facilidade de utilização, precisão e robustez com um preço compatível com uma massificação de utilização", afirmou o presidente da Sysadvance, José Vale Machado. Vai custar cerca de 15 mil euros, "um terço do preço do líder de mercado".
A "aventura", explica, começou em março de 2020, logo que a pandemia rebentou. A premissa era simples: desenvolver um ventilador, que fosse preciso na pressão e volume a debitar, 100% português, tão bom ou melhor que os existentes. Juntaram-lhe o controlo remoto. "Para fazer um pequeno ajuste de parâmetros, não é preciso entrar na zona de contágio. Basta ir ao computador", frisa Vale Machado. Em dois meses, estava "totalmente desenvolvido, testado e validado". Seguiram-se meses de "burocracias", um dossier com 304 documentos e dez ensaios feitos em três países. A certificação europeia chegou no final de janeiro.
"É um equipamento de suporte de vida, portanto, o processo é complexo", admite o presidente da Sysadvance, acrescentando que, ainda assim - e porque a empresa estava certificada como produtor de dispositivos médicos - "pouparam-se quatro anos".
SNS
35 vão ser oferecidos aos hospitais
O Sysvent OM1 foi desenvolvido com a colaboração dos médicos intensivistas António Carneiro, Nuno Cortesão e Marco Fernandes. Os primeiros 30 foram comprados pela associação "Todos Por Quem Cuida", da qual fazem parte a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Farmacêuticos e a Apifarma. Serão doados ao Serviço Nacional de Saúde. A Sysadvance ofereceu mais cinco. Miguel Guimarães diz que a ideia é entregar um a cada hospital. No pico da 3.ª vaga, explica, usaram-se "os melhores e os piores" na luta por salvar o máximo de vidas. Agora, há que substituir os que estão ultrapassados.