O líder do Chega afirmou, esta sexta-feira, que existe a possibilidade de um "escalar de conflito físico, verbal e político" no Parlamento. À saída de uma audição com Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, André Ventura também disse ter ficado "com a sensação" de que o presidente da República foi "sensível" às suas queixas contra o presidente da Assembleia da República.
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Alegando que "o ambiente está muito tenso", o líder do partido de extrema-direita salientou que "ninguém quer ver, no Parlamento, situações como já vimos noutros países do mundo, em que há deputados desentendidos uns com os outros, quase à batatada no hemiciclo".
Para Ventura, tudo isso ocorre porque o ambiente durante os plenários, "que era onde se deviam dispersar as energias políticas, é abafado e limitado por um presidente da Assembleia da República", alegou. A visita do presidente do Chega a Belém teve, de resto, o propósito de apelar para que Marcelo repreenda Augusto Santos Silva, assunto relativamente ao qual Ventura disse ter ficado otimista.
"Parece-nos que o presidente foi recetivo aos nossos argumentos", referiu. No seu entendimento, Santos Silva tem "atropelado sistematicamente o regimento da Assembleia da República", contribuindo para um "cerceamento constante da liberdade" e para uma situação de "possível mordaça à democracia".
Números contrariam Ventura
Ventura alegou ser necessário "recuar mais de 100 anos" para encontrar um líder do Parlamento "a comentar" um posicionamento de um partido politico, e "recuar 500 anos" até haver registos de um órgão de soberania "que rejeite uma censura sobre si próprio".
O presidente do Chega disse compreender que Marcelo tenha de agir com "recato", até por não poder "comprar uma guerra direta" com Santos Silva. No entanto, sublinhou que só o chefe de Estado tem "a autoridade política" para atuar nesta situação.
Para Ventura, Santos Silva tem prejudicado o Chega devido a uma "estratégia deliberada" montada para servir as suas próprias "ambições pessoais". "Este ambiente prejudica o parlamentarismo", queixou-se o líder do terceiro maior partido.
Ventura, recorde-se, tem atraído atenção mediática extra-debates no Parlamento por se envolver em conflitos verbais com Santos Silva. O mais recente ocorreu na semana passada, quando a segunda figura do Estado disse ter "muito, mas mesmo muito orgulho" no contributo que os imigrantes dão a Portugal após uma intervenção do líder do Chega.
Ventura tinha feito uma generalização, sem se basear em dados, no sentido de afirmar que os portugueses pagam muitos impostos para "sustentar" os estrangeiros que escolhem Portugal para viver. Contudo, números publicados pelo Observatório das Migrações desmentem esse argumento: em 2020, os imigrantes a viver em Portugal tiveram um contributo positivo de 802,3 milhões de euros para a economia.