André Ventura pressionou Montenegro a dizer o que fará se o PS vencer com minoria, dizendo que tudo fará para que o PS não volte ao poder. Mas Montenegro insistiu que só pensa na vitória da AD. Comparou Ventura a Sócrates e o presidente do Chega respondeu que o líder da AD é o “idiota útil” da Esquerda.
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Metade do debate entre Ventura e Montenegro esta segunda-feira à noite na RTP foi passado a discutir cenários de governabilidade. Numa altura em que a AD e o Chega parecem cada vez mais afastados, não faltaram momentos de discordância e muitas interrupções de parte a parte que criaram ruído no discurso do adversário, acabando ambos por prolongarem o tempo das suas intervenções muito para além dos 15 minutos estipulados.
Luís Montenegro reafirmou que não quer acordos com o Chega pois o partido de Ventura tem “opiniões populistas, xenófobas e racistas”, lembrando mesmo que na véspera se referiu ao PSD como "uma espécie de prostituta política". Segundo o líder da AD, o Chega tem uma linguagem que é “o grau zero da política” e as propostas são irrealistas: “Nós fizemos as contas e as 13 medidas que o Chega propõe custariam 25,5 mil milhões de euros. Veja bem a despesa pública. Promete tudo a todos, você parece o José Sócrates”.
No entanto, a pergunta era sobre o que faria Montenegro se a AD perdesse as eleições e fosse chamada a viabilizar um Governo do PS. Não houve resposta. André Ventura percebeu a omissão e insistiu: “Eu estou perante um líder do PSD que na verdade é um homem que tem dado nos últimos anos o colo ao PS e agora recusa dizer o que quer fazer”, dizendo que Montenegro é "incapaz de decidir".
O líder do Chega, que em 2019 pediu para ser internado caso alguma vez suplicasse publicamente por alianças à Direita, agora só questiona o porquê de uma aliança não acontecer, e acusa: “Já se percebeu que vai viabilizar um governo do PS. Está a ser o idiota útil da Esquerda. Esta é a Direita que a Esquerda gosta. Assim a Esquerda terá via verde para o poder”.
Montenegro "a trabalhar para a maioria absoluta"
Pressionado a responder o que fará caso o PS ganhe sem maioria à Esquerda, Luís Montenegro afirmou que o cenário não está em cima da mesa, pois está “trabalhar para uma maioria absoluta”: “Não há cenário de derrota porque eu estou concentrado em dar aos portugueses a resposta aos seus problemas”.
Com o debate quente, houve apenas lugar a mais três temas: segurança, corrupção e pensões. Nas questões da segurança, Montenegro acusou o Chega de fazer um discurso “de instrumentalização” das forças de segurança, e discordou da proposta de Ventura de permitir a filiação partidária e o direito à greve à GNR e à PSP: “A filiação partidária é a forma de colocar os partidos políticos e a política dentro das esquadras da GNR. Quanto à greve, significa que também defende o direito à greve das forças militares”.
Na resposta, André Ventura acusou Montenegro de ter "traído" as forças de segurança ao não se comprometer com o aumento do subsídio de risco, e questionou: “Os magistrados podem ser filiados em partidos. A PJ pode fazer greve, o SEF também, então porque é que as restantes forças de segurança não podem?”.
Antes das pensões, os candidatos ainda se debruçaram sobre o tema da corrupção. Montenegro prometeu criminalizar o enriquecimento ilícito, regulamentar o lobby e desburocratizar a máquina do Estado. Já para Ventura, as duas grandes medidas para acabar com a corrupção são o aumento das penas e o confisco de bens: “É no confisco de bens que está a solução, é aí que vai custar à corrupção”.
Tal como nas vezes anteriores, o líder do Chega não especificou como vai conseguir recuperar os alegados 20 mil milhões de euros que Portugal perde para a corrupção através do confisco de bens, visto que esta é uma medida preventiva que já existe nos processos judiciais e, em particular, nos de corrupção.
Porém, não deixou de acusar Montenegro de incoerência ao não ter tomado a mesma posição com as suspeitas de corrupção que levaram à queda dos Governos da República e da região da Madeira: "A corrupção só é má se não for a minha". Ventura acrescentou que Miguel Albuquerque e Pedro Calado "estavam próximos" de Montenegro.
"Vamos ver quem ri melhor", diz Ventura
Quando o tema mudou para as pensões, Montenegro regressou ao ataque e acusou André Ventura de não fazer contas às medidas que apresenta, pois o aumento de todas as pensões para o valor equivalente ao salário mínimo nacional teria um custo de 9 mil milhões de euros.
Depois, reforçou a promessa de fazer equivaler o Complemento Solidário para Idosos (CSI) ao salário mínimo e, pela primeira vez, considerou injusta a condição de recursos que inclui, nos rendimentos dos idosos candidatos ao CSI, os rendimentos dos filhos, mesmo que estes vivam fora dos pais ou até noutro país: “Acho injusto, estou disponível para ir revisitar as condições do CSI, nomeadamente essa”.
“Não se compromete com nada. Não se compromete com polícias, com professores, não se compromete com nada”, reagia Ventura, dizendo que não precisa de se reconciliar com os pensionistas. O líder do Chega acusou Montenegro de ser líder parlamentar “do maior corte de pensões da nossa história”, referindo-se ao período da Troika, e contrapôs com o Chega que “desde o início do mandato que apresenta propostas para defender os idosos”.
Do outro lado, Montenegro ria-se e dizia: Também andava lá a abanar a bandeirinha nesse tempo". “Não se ria dos portugueses”, comentava Ventura. “Não me estou a rir dos portugueses, estou-me a rir de si”, respondia Montenegro. “Pode-se rir de mim, mas no dia das eleições vamos ver quem ri melhor”, concluía o presidente do Chega.
No final, instados a dizerem quem são os principais adversários políticos, ambos divergiram. Montenegro escolhe apenas o PS e apela ao voto útil: “Eu não tenho nenhum problema de dizer aos portugueses, olhos nos olhos, para ponderarem ou reponderarem o seu sentido de voto no Chega, porque para mudar de Governo e acabar com este caminho de degradação é preciso o voto na AD”.
Já André Ventura também olha para o PS como um adversário, mas acrescenta que o inimigo do Chega é “o sistema composto pelo PSD e pelo PS que nos governam há 50 anos”.