Tratamento biológico com um parasitoide que come as larvas do inseto invasor tem sido bem-sucedido. A tinta continua a ser a ameaça dos soutos.
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Seis anos depois de ter aparecido em Portugal, a vespa-das-galhas-do-castanheiro deixou de ser a principal ameaça dos soutos, graças ao sucesso da luta biológica. O grande problema continua a ser a doença da tinta, que provoca a seca de milhares de castanheiros todos os anos e para a qual ainda não há solução.
José Laranjo, presidente da Refcast, a Associação Portuguesa da Castanha, diz que todos os anos, no mês de maio, é anunciada "uma catástrofe" para a produção de castanha em Portugal por causa da vespa-das-galhas-do-castanheiro. Mas "este ano ninguém fala em catástrofe", o que passa a ideia de que "a vespa não está a afetar significativamente a produção".
Os primeiros focos da vespa-das-galhas-do -castanheiro apareceram em 2014. No ano seguinte começou a luta biológica, única forma de a combater, através de largadas do parasitoide Torymus sinensis, que se alimenta das larvas da vespa. "É aqui que está a chave do sucesso", nota Laranjo. Acrescenta que a monitorização que está a ser feita "mostra que o parasitoide se está a instalar de uma forma muito significativa por todo o país, o que deixa os produtores mais descansados".
Para evitar que a vespa volte a ficar descontrolada "não se podem fazer asneiras nos soutos", ou seja, "desenvolver trabalhos que estraguem o equilíbrio instalado" entre os dois insetos. José Laranjo garante que "vai haver anos em que a vespa vai aparecer com mais incidência". Porque, "por falta de alimento, a população do parasitoide também cairá". Mas "havendo mais vespa, o parasitoide terá mais que comer e a população voltará a crescer e, por sua vez, a fazer diminuir a primeira".
Sem solução para tinta
Se a vespa das galhas está controlada, o mesmo não acontece com a doença da tinta. Falta um tratamento eficaz para impedir que esta espécie de fungo oportunista ataque os castanheiros, sobretudo em anos quentes e secos. Localiza as portas de entrada nas raízes das árvores, penetra-as e provoca a seu apodrecimento. "Um castanheiro com tinta tem o seu sistema radicular completamente destruído e como não chega nada à copa acaba por morrer", explica o presidente da Refcast.
"Devem ser raríssimos os soutos que não têm falhas provocadas por castanheiros que secaram, tal é o impacto que a tinta tem", prossegue o também docente e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real.
A solução é optar por castanheiros híbridos em novas plantações. Graças às suas caraterísticas genéricas "podem ser plantados em soutos completamente dizimados pela doença e eles conseguem resistir". O que ainda não se consegue fazer é "impedir que castanheiros com 30, 60 ou 100 anos sequem de uma hora para a outra".
A saber
Balanço positivo
Este ano não foi amigável para os soutos. O verão extremamente seco condicionou o desenvolvimento da castanha, choveu tarde e não foi suficiente para corrigir os calibres. Apesar disso, não há quebras significativas de produção e a qualidade é boa.
Castanha até abril
A castanha de 2020 é de qualidade extraordinária, com pouca podridão e menos bichado, o que a torna muito boa para processos de conservação. Vai permitir às empresas ter fruto em boas condições para fornecer ao mercado até abril do ano que vem.
Produção nacional
A estimativa da Refcast aponta para 45 mil toneladas por ano, em média, mas José Laranjo nota que as estatísticas contabilizam 37 mil toneladas. Desde 2012 a produção nacional tem vindo a subir de uma forma sustentada, ao contrário que aconteceu até então. O setor gera 100 milhões de euros anuais, em termos de valor pago ao produtor.
O exemplo de Itália
A atuação no "momento certo" fez com que a vespa das galhas do castanheiro não se tornasse a ameaça que todos temiam em Portugal, ao contrário do que aconteceu em Itália onde houve quebras de mais de 80% nos soutos. "Por lá só começaram a fazer o tratamento biológico com o parasitoide Torymus Sinensis seis anos depois de ser ter instalado a vespa e já com a maioria dos soutos num estado calamitoso.