Pedidos de socorro ao INEM aumentaram no ano passado e numa janela temporal mais baixa, depois do agravamento registado em 2020.
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Depois do agravamento verificado no primeiro ano de pandemia, os portugueses demoraram menos tempo a pedir socorro ao INEM em situações de suspeita de enfarte e de acidente vascular cerebral (AVC). Em linha com o aumento da atividade do instituto de emergência médica no ano passado, os centros de orientação de doentes urgentes (CODU) do INEM acionaram aquelas vias verdes mais vezes em 2021.
No ano passado, a via verde do AVC foi acionada 5816 vezes (mais 877 face a 2020) e a coronária em 899 ocasiões (mais 203 vezes). Com o tempo médio entre o início de sintomas e a chamada para o 112 a recuar face a 2020. No caso da via verde do AVC, o tempo médio baixou para cerca de 11 minutos face a 2020. Ano em que o tempo se havia agravado em mais de 70 minutos, não sendo, no entanto, os dados totalmente comparáveis devido a alterações de critérios no início de 2019. Tendência idêntica, mas mais ténue, verificou-se no acionamento da via verde coronária, com um recuo da ordem dos três minutos, face a uma subida de 22 minutos no primeiro ano de pandemia.
"Um sinal positivo" e de fim do ciclo do medo vivido, sobretudo, na primeira vaga, com as pessoas a adiarem os pedidos de socorro por recearem a infeção por SARS-CoV-2 e a procura pelas urgências a cair a pique, lembra, ao JN, o responsável pelos CODU do INEM. Quanto ao tempo do AVC, António Táboas destaca a tendência para "normalizar, sendo que não é o ideal, porque quanto menos tempo melhor". Na coronária, "começa a tentar diminuir", acreditando que, "com o tempo e com as campanhas, as pessoas ficam mais atentas para ligar 112 nestas situações". Porque, explica, no caso de enfarte, "acabam por pensar que pode ser outra causa e tentam desvalorizar os sintomas". Quando no AVC, a sintomatologia prévia é mais evidente, concretamente a falta de força no braço.
Hipertensão prevalente
Numa leitura às duas vias verdes, aquele responsável destaca, ainda, o aumento de atividade no ano passado, para um total de 1,289 milhões de ocorrências (mais 4%). Acresce, prossegue, "a melhoria dos registos, com a digitalização dos processos", bem como a literacia em saúde. "Demora anos a interiorizar, mas há uma melhoria do conhecimento das pessoas".
Por último e com impacto ainda limitado por ter entrado em vigor em novembro, o facto de os técnicos de emergência pré-hospitalar poderem realizar eletrocardiogramas em cerca de 60 ambulâncias. "O envio do eletrocardiograma para o CODU alarga o leque de doentes que pode ser avaliado".
Comum e dominante nos antecedentes pessoais clínicos dos acionamentos das duas vias verdes é a hipertensão arterial. Na coronária, a maioria das situações reporta ao sexo masculino, com mais casos nos 55 a 59 anos. A dor anginosa (de peito) era o antecedente pessoal mais reportado.
Analisando os dados do AVC, todos os distritos registaram aumentos dos pedidos, liderados por Porto (1325) e Lisboa (1103), com um tempo médio de 03:46:35 (menos 32 minutos) e 03:29:58 (menos 10 minutos), respetivamente. A distribuição por género é idêntica, com mais casos acima dos 80 anos, sobretudo nas mulheres. A maioria dos doentes queixava-se de falta de força no braço.
A saber
Ligue 112
É um apelo do INEM. De todos os profissionais de saúde. Dor no peito de início súbito, com ou sem irradiação ao membro superior esquerdo, no caso de enfarte; ou falta de força num braço, boca ao lado ou dificuldade em falar,
no AVC. São estes os sinais a que deve estar atento. Sendo o caso, ligue para o 112. As primeiras horas são vitais.
Eletrocardiogramas
Desde novembro que os técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM podem realizar eletrocardiogramas na rua para identificar enfartes. Nos primeiros dois meses, fizeram 1507 eletrocardiogramas.