Concurso para recrutar 178 técnicos acaba com 54 aprovados. Entradas não cobrem as saídas, deixando ambulâncias e motos de emergência paradas.
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O último concurso para recrutar técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) para as ambulâncias e centrais do INEM terminou com apenas 30% das 178 vagas preenchidas. A capacidade de captação de recursos humanos do instituto está em mínimos históricos e as entradas não chegam para cobrir as saídas. Ou seja, as ambulâncias vão continuar a parar por falta de equipas. O INEM adiantou ao JN que vai abrir "em breve" um novo concurso para 125 TEPH.
Desta vez, para evitar mais desistências, o instituto permitiu aos candidatos aprovados escolherem a região onde querem trabalhar, o que está a gerar mal-estar entre os técnicos deslocados há vários anos que viam neste procedimento uma oportunidade para regressarem às zonas de residência.
A lista de ordenação final foi publicada ontem e revela que apenas 54 foram aprovados. Destes, só 49 assinaram contrato, revelou o INEM. Os novos técnicos têm pela frente seis meses de formação, pelo que só entrarão ao serviço no último trimestre.
"Dos 54 novos TEPH, mais de 30 ameaçaram não assinar contrato se não ficassem na delegação pretendida. E o INEM fez-lhes a vontade", afirmou ao JN o presidente do Sindicato dos TEPH. Segundo Rui Lázaro, a decisão tem duas consequências: por um lado, a maioria dos aprovados são do Norte, o que significa que as graves carências sentidas no Centro e no Sul se irão manter; por outro lado, dezenas de técnicos que estão a trabalhar em Lisboa e que esperavam mudar-se para o Norte não conseguirão fazê-lo, o que faz crescer ainda mais o desânimo.
125 Vagas por regiões
O INEM diz que possibilitou a escolha para garantir o preenchimento do maior número de postos de trabalho e garante que tal não impossibilita a mobilidade. Ainda assim, adianta, no próximo concurso as vagas deixarão de ser nacionais e serão distribuídas por regiões, para tentar contratar mais profissionais e reduzir a percentagem de pedidos para mobilidades regionais.
A falta de atratividade da carreira especial dos TEPH, com remunerações muito próximas do salário mínimo, as muitas horas de trabalho extraordinário, as deslocações para longe de casa, com as consequentes despesas, são as principais razões apontadas pelos técnicos para o desinteresse nos concursos. A estas acrescem os problemas com a formação: quem entrou em 2017 e 2019 ainda não concluiu os módulos previstos.
"Há uma taxa de abandono anual superior a 30% e este concurso não cobre nem de perto as saídas", assegura Rui Lázaro. De resto, acrescenta, ao contrário do que era prática, já se veem técnicos a sair do INEM, nomeadamente em Lisboa, para trabalharem em corporações de bombeiros, que oferecem melhores condições. Além dos que abandonam definitivamente o lugar, outros aproveitam os concursos de mobilidade dentro da Função Pública.
A incapacidade de atrair recursos tem consequências diretas na operacionalidade dos meios operados por TEPH e no funcionamento dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). "Todos os dias há ambulâncias e motos paradas por falta de técnicos", frisa Rui Lázaro.
SUBSÍDIOS
Instituto diz desconhecer proposta dos bombeiros
O INEM desconhece qualquer proposta concreta da atual Direção da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) para atualizar o valor dos subsídios pagos pelas ambulâncias que prestam serviço ao instituto. Ainda assim, diz estar disponível para discutir o tema, lembrando, porém, que o acordo de cooperação foi assinado em outubro "após um período de negociação de quase dois anos". É a resposta do instituto à proposta de renegociação do protocolo em 90 dias, avançada anteontem pela LBP. Para evitar o estrangulamento financeiro das corporações, os bombeiros exigem que o INEM pague mais 4 mil euros (em duas tranches de dois mil euros em maio e novembro) por ambulância Posto de Emergência Médica (PEM). Questionado sobre esta exigência, o INEM não se pronunciou, mas lembrou que a atualização dos subsídios significou um aumento das transferências correntes para os bombeiros na ordem dos 30%.