Viana combate a malnutrição infantil: o desafio diário é dançar, dar abraços e comer fruta
Escola aderiu a programa de combate à malnutrição infantil que incentiva a mudar comportamentos através de atividades.
Corpo do artigo
Simão tem uma banana guardada numa lancheira do Homem-Aranha, Gonçalo tem uvas na lancheira do Batman, João quer ser paleontólogo, porque adora dinossauros e refere que o Ankylosauros come manga. A fruta faz parte do dia a dia das crianças do Centro Escolar de Mujães, em Viana do Castelo.
Este ano foram desenvolvidas atividades do programa nacional de combate à malnutrição infantil, "Heróis da Fruta", que desde 2011 procura introduzir mudanças na alimentação dos alunos. Para alguns, o tema até nem foi novidade.
Naquela freguesia rural há várias estufas de produção de morangos, mirtilos, kiwis e outros frutos, legumes e plantas aromáticas, e algumas delas pertencem a pais e familiares. Professores e funcionários compram-lhes cabazes.
"Há aqui meninos que não comiam muita fruta e agora já comem mais. O Simão Macedo sempre trouxe muita, porquê? (silêncio à espera de resposta). "Porque o pai tem... uma frutaria", pergunta e responde a professora Daniela Novo, dirigindo-se à turma do 1.º Ciclo. Simão sorri envergonhado e acrescenta: "O meu avô também tem uma laranjeira e uvas e kiwis nas estufas. Eu gosto de fruta. De banana, morangos e melancia".
Alguns colegas mostram as lancheiras e falam das suas frutas preferidas. "Nunca escolhem só uma. A pera e a banana são as mais escolhidas", comenta a docente, explicando que, em outubro, os alunos começaram as atividades do programa "Heróis da Fruta" com o apoio da nutricionista do centro de saúde local.
Fizeram trabalhos de pintura [afixados nas paredes da sala], assistiram a vídeos sobre o tema, tiveram direito a mascarilhas e pulseiras e cumpriram o desafio de, todos os dias, "comer uma peça de fruta na escola, beber água, dançar cinco minutos e dar abraços".
"Durante cinco semanas, trouxeram uma peça de fruta todos os dias e depois preenchiam um passaporte. Pintavam estrelas de cores específicas. Cada cor corresponde a uma fruta e a um superpoder. Depois de terminar o projeto em sala de aula, a maioria continuou a trazer fruta para a escola", garante Daniela Novo.
No dia desta reportagem, a professora Fátima Lira contou aos meninos do Pré-Escolar a história de uma loba que chocou um ovo de pata com intenção de comer o animal, mas acabou por se lhe afeiçoar, tornou-se amiga dele e passou a comer melancia. A professora Cátia Frutuoso conta que, no Carnaval, promoveu a atividade de "trazerem lanches saudáveis de casa". "Incentivamos muito o consumo de fruta, cada vez mais, para deixarem as guloseimas".
João, o aspirante a paleontólogo, é filho de produtores de fruta. "A minha mãe tem na estufa morangos, amoras, framboesas, mirtilos e legumes. Gosto de morangos. Hoje, trouxe só uma banana", revelou João.