O Conselho Nacional do Chega foi, como se esperava, a aclamação de André Ventura. Perante a ausência da maioria dos opositores internos, a moção de confiança ao líder foi aprovada por 97,2% dos votos. Segundo denúncias de militantes presentes, ao contrário do prometido, a votação não foi secreta e os votos eram feitos à frente da mesa, com todos os membros a ver: "Isto é pidesco". O partido nega. Nuno Afonso, principal rosto da oposição interna, desafia Ventura para um debate.
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O Chega prometeu que a moção de confiança a André Ventura seria votada "através de voto secreto em urna fechada" mas, pelas denúncias que chegaram ao JN provenientes de militantes presentes, o secretismo não foi assegurado. "Não existiam cabines, biombos, nada com privacidade para se votar. Tive que votar na mesa, entre uma urna pequenina e eu, com pessoas atrás a ver e o presidente da mesa em pé", garante uma militante e autarca do Chega.
A votação que decorreu, este domingo de tarde, no Conselho Nacional que se realizou na Batalha, foi feita com várias mesas. Depois de passarem pela fila, os militantes com quotas pagas recebiam o boletim de voto do presidente da mesa e, segundo garantem, tinham de votar no mesmo local, em frente aos membros da mesa. "Não houve voto secreto porque as pessoas tentavam controlar e isto intimida, assim não há liberdade em lado nenhum", assegura.
Outra militante, que preferiu não dar a cara com medo de ser suspensa por falar, assegurou ao JN que teve de remediar a situação para garantir o secretismo do seu voto: "Eu votei em cima da minha carteira".
Questionado pelo JN, o Chega não respondeu porque é que não colocou câmaras de voto para os militantes votarem de forma secreta, como numa eleição normal. Ainda assim, garante que "o secretismo do voto foi sempre garantido" pois "os militantes tinham a possibilidade de se afastarem das mesas de voto, garantindo assim o secretismo".
"Nunca houve nenhuma indicação para se votar em frente aos membros da mesa"", acrescenta o partido, que nota que "o resultado da votação é absolutamente inequívoco" e o ato "foi supervisionado pelo Conselho de Jurisdição e pela Mesa do Conselho Nacional".
A moção de apoio a André Ventura foi aprovada com 97,2% dos votos. De um universo de 515 votos, houve apenas 15 contra e um nulo.
Nuno Afonso desafia Ventura para debate
As críticas à falta de democracia no Chega foram o principal motivo para os opositores internos terem faltado ao Conselho Nacional na Batalha. Nuno Afonso, vereador do Chega em Sintra e principal rosto da oposição interna a André Ventura, considera que o resultado é uma derrota do líder: "Como só votam os que ele quer, qualquer resultado menor do que 100% é uma derrota".
O sintrense não foi à Batalha porque "aquilo de democrático não tem absolutamente nada", garante, exemplificando com as dezenas de críticos que estão suspensos: "Só puderam ir à Batalha pessoas que não discordam dele, porque os outros estão suspensos".
Nuno Afonso, que foi acusado por André Ventura de ser "cobarde" por não ter aparecido, responde que "a verdadeira cobardia é uma pessoa ter que chamar os amiguinhos todos para cascar numa pessoa". Por isso, lança um desafio ao atual líder: "Se o André se acha um tipo corajoso então vamos debater os dois na televisão, aí é que se vai ver se ele é corajoso".
Um dos militantes suspensos que não pôde ir ao Conselho Nacional é José Dias, antigo vice-presidente do partido. "Nós não fomos porque uns estão suspensos, outros não podiam usar da palavra e não valia a pena lá ir para serem humilhados, tipo claque de futebol", lamenta. Segundo José Dias, "só os seguidistas é que foram" ao Conselho Nacional: "Serve para lhe engrandecer o ego e para lhe dar uns miminhos, mas se ele quer miminhos que não os venha pedir aos militantes".
O antigo vice-presidente fala em "centenas de militantes" suspensos ou que deixaram o partido por livre iniciativa em desacordo com o que dizem ser "uma perseguição aos críticos" feito pela Comissão de Ética, um órgão sem regulamento e cuja criação ainda não foi validada pelo Tribunal Constitucional: "Fui punido por opiniões pessoais. A Comissão de Ética é completamente irregular porque não foi validada".
Fernando Feitor, vereador em Vila Verde que na passada sexta-feira fechou a sede do Chega Vila Verde por falta de apoio da Direção Nacional e da Distrital de Braga, diz que o Conselho Nacional é "uma palhaçada" pois só estão os militantes afetos a André Ventura: "Só estão os que ele quer, os outros estão suspensos, foram expulsos ou saíram pelo próprio pé. Se eu fosse tinha de falar e ia ser enxovalhado como fui em Santa Maria da Feira". Para Fernando Feitor há "falta de democracia" e "não há liberdade de expressão no partido", motivo pelo qual "muitos militantes estão a desistir e estão cansados".