Vouchers para férias grátis só chegam a 10% dos alunos que terminaram o 12.º ano
O objetivo da medida era incentivar os jovens a ficarem no país, mas adesão é residual. Custou 750 mil euros em dois anos.
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Só 10% dos alunos que terminaram o 12.° ano em 2023 e 2024 usaram os vouchers para usufruírem de uma semana de férias nas pousadas de Portugal com pequeno-almoço incluído e viagens de comboio pelo país. O programa foi anunciado com pompa e circunstância pelo ex-primeiro-ministro, António Costa, para incentivar os mais novos a ficarem a trabalhar em Portugal, mas a adesão é residual.
O Governo gastou até agora mais de 750 mil euros com a implementação da medida que deverá terminar este ano letivo, a par com a devolução do valor das propinas que estava no mesmo pacote para acenar ao bolso da juventude e já caiu por terra.
Desde que entrou em vigor no início de 2024, apenas 12 981 jovens pediram o voucher do programa “Anda Conhecer Portugal”. Segundo os dados enviados ao JN pelo ministério da Juventude, só 8205 estudantes que terminaram o ensino secundário no ano letivo de 2022/2023 receberam o voucher ANDA; o número desceu para 4776 nos finalistas de 2023/2024; este ano ainda só foram solicitados 12, mas o período para fazer os pedidos também só começou no dia 15 de julho.
O atual Governo reformulou e alargou a medida a novos públicos, nomeadamente a jovens que tenham entre 18 e 30 anos, mas o efeito foi nulo. Os números são residuais se olharmos para o total de jovens que podiam ser abrangidos pela medida. Segundo os números mais recentes, 84 775 estudantes concluíram o ensino secundário no ano letivo de 2022/2023. O que significa que a maioria ficou de fora.
Os dados enviados ao JN especificam que a CP registou 3688 utilizações em 2024 e 1093 em 2025. A oferta contempla viagens de comboio ao longo de sete dias. E a esmagadora maioria de utilização verifica-se nos meses de julho e agosto.
Já quanto às reservas nas Pousadas de Juventude, foram usufruídas 19 308 noites em 2024 e 6422 em 2025. Nestes dois anos, a pousada de Portimão é a mais requisitada com 4754 noites, seguindo -se o Porto (1 854) e Lisboa (1708). Os Açores (8) e Olhão (6) são as que reúnem menos adeptos.
Alojamento sai mais caro
Sobre o custo da implementação da medida, a tutela adianta que gastou 140 733 euros com vouchers CP em 2024 e 41 708 euros até junho de 2025. O custo indireto estimado do programa é mais pesado no alojamento, onde até foram pagas reservas que não acabaram por não ser usufruídas pelos jovens.
Em 2024, são imputados 376 506 euros relativos a 19 308 noites usufruídas. Contudo, foram bloqueadas mais de 20 mil noites “para garantia de disponibilidade”, subindo a rubrica gasta para 390 mil euros. Já em 2025 foi gasto 125 229 euros com a reserva de 6422 noites.
Os finalistas de 2026 é que dificilmente terão a oportunidade de beneficiar do programa. O regulamento determina que este é válido apenas para os estudantes que concluam o ensino secundário nos anos letivos de 2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025. O JN questionou o Governo sobre a sua continuidade, mas não obteve resposta. Para quem terminou este ano, o voucher pode ser adquirido através da plataforma andaconhecerportugal.pt até 4 de julho de 2026 e é pessoal e intransmissível.
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Condições de acesso
Para aceder ao voucher é obrigatório ter concluído o ensino secundário em Portugal, mas não é obrigatório ter nacionalidade portuguesa.
Tempo de utilização
Pode ser usado até 4 de julho e a reservas nas pousadas podem ser feitas de imediato. Os bilhetes da CP só podem ser adquiridos após dois dias úteis da receção do voucher.
Pousadas incluídas
As pousadas de juventude de Melgaço, Viseu, Serra da Estrela, Braga, Setúbal e Arrifana não estão incluídas.