As presidenciais de domingo originaram perdas à Esquerda (juntos, BE e PCP recuaram mais de 300 mil votos, mas a queda estrondosa foi de Marisa Matias) e uma indefinição quanto ao futuro à Direita.
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André Ventura, líder do Chega, ficou em terceiro lugar, com quase meio milhão de votos, e avisou: "PSD, ouve bem, não haverá Governo sem o Chega". Uma provocação que não agrada a muitos sociais-democratas. Miguel Poiares Maduro, antigo ministro de Passos Coelho, diz que o partido tem de se afirmar como "alternativa" para não ficar "refém" da extrema-direita; David Justino, vice-presidente laranja, afirma ser "impossível" dialogar "com este Chega" e acredita que muitos dos descontentes que agora votaram em Ventura escolherão o PSD nas legislativas.
Carlos Jalali, professor da Universidade de Aveiro, diz que os resultados evidenciam "uma disposição dos eleitores para procurar novas alternativas". O politólogo sublinha que esse fenómeno "é maior nas presidenciais" - já que "a governação não está em causa" - e que, este ano, se tornou ainda mais evidente por a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa nunca ter estado em causa. No entanto, admite que poderá vir a existir uma maior "volatilidade eleitoral" nas próximas legislativas.
Também António Costa Pinto, do ICS, admitiu à Lusa que os 11,9% de André Ventura são "uma progressão sustentada das intenções de voto à direita no Chega para as eleições legislativas".
Poiares Maduro, do PSD, afirma ao JN que os resultados deixaram o centro-direita "num dilema sobre como conseguir ser alternativa governamental sem ficar refém do Chega". O professor universitário explica que há, de momento, "duas correntes" no PSD: uma admite ter o Chega como parceiro, de modo a garantir que haja alternância de poder e estando apostada em "moderar" o partido de Ventura; a outra, em que Poiares se inclui, entende que tal solução iria "valorizar" a extrema-direita.
O antigo governante argumenta que trazer forças como o Chega para o arco da governação "leva a que esses partidos contaminem a agenda política dos partidos moderados". Além disso, é uma solução "pouco estável", considera. Para Poiares Maduro, o PSD tomou uma "decisão inteligente" ao distanciar-se do Chega. O académico referia-se às declarações de David Justino, horas antes, à TSF, em que o vice-presidente social-democrata disse que "com este Chega é impossível conversar".
cds: fala-se demais no chega
Na SIC, Justino lembrou que foi Marcelo quem venceu as eleições e descreveu o resultado de Ventura como um "grito de revolta" de "gente que se sente esquecida". Mas defendeu que, nas próximas legislativas, quem agora confiou o voto ao líder da extrema-direita "vai voltar a votar no PSD".
Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, irá impedir o Chega de entrar na coligação que dirige, que inclui PSD, CDS e independentes. Ao JN, o autarca diz que muito do que esse partido defende "viola" a sua "consciência e valores", além de que os membros dessa força política no concelho são "ainda mais extremistas" do que Ventura. Sobre acordos de nível nacional, apenas afirma que o PSD tem de se assumir como alternativa ao PS.
Diogo Feio, do CDS - partido que, tal como o PSD, também apoiou Marcelo -, diz que o "resultado histórico" alcançado pelo atual presidente prova que as grandes soluções continuarão a passar pelo "centro moderado". O antigo deputado defende ser "um erro falar-se constantemente do Chega" e dar a um partido que teve 1% nas legislativas "um peso superior ao que tem". Já Hélder Amaral refere que a Direita foi "ultrapassada" por Ventura. E que tem de voltar a conseguir promover "ruturas".