Ao longo do seu percurso político no PS e no Governo, João Galamba tem estado envolvido em várias polémicas, com mensagens críticas e troca de palavras azedas no Twitter. O socialista, próximo de Pedro Nuno Santos e que pertencia ao grupo dos jovens turcos, tal como Pedro Delgado Alves e Duarte Cordeiro, foi próximo de José Sócrates e apoiou a ascensão de António Costa no partido. A novela em torno da demissão do seu adjunto no Ministério das Infraestruturas é o último episódio.
Corpo do artigo
Troca de acusações entre Galamba e adjunto exonerado
As notas da reunião preparatória que juntou deputados do PS, membros dos gabinetes ministeriais e a ex-CEO da TAP geraram um vendaval no Ministério das Infraestruturas. Esse documento foi entregue pelo Governo à comissão parlamentar de inquérito à TAP um dia depois da data prevista, mas gerou troca de acusações e versões contraditórias entre o ministro das Infraestruturas e o seu adjunto Frederico Pinheiro, entretanto exonerado. João Galamba garante que demitiu Frederico Pinheiro por este ter negado, inicialmente, a existência de notas e só ter admitido que tinha apontamentos da reunião preparatória, que ocorreu em janeiro na véspera da audição da então CEO da TAP no Parlamento, em cima da data limite de entrega da documentação na comissão de inquérito. E, ainda assim, demorou a enviar as notas ao ministério. No entanto, Frederico Pinheiro tem uma outra versão dos acontecimentos. Alega que Galamba pretendia mentir ao Parlamento, dizendo que as notas não existiam. Quando alertou o ministro de que, caso fosse chamado à comissão de inquérito, não poderia mentir e teria de dizer que tinha esses apontamentos, o governante ficou furioso e demitiu-o. Ainda segundo o ministério, Pinheiro terá agredido duas funcionárias do Estado para roubar um computador portátil, entretanto já recuperado.
Reunião preparatória e a participação da ex-CEO da TAP
A reunião preparatória, que antecedeu à audição parlamentar da então CEO da TAP em janeiro a propósito da indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, continua a dar que falar. Quando Christine Ourmières-Widener declarou que tinha participado nesse encontro preparatório por iniciativa do Ministério das Infraestruturas, o gabinete de João Galamba fez um comunicado a 6 de abril passado, dando conta que foi a CEO quem pediu para participar na reunião. A dúvida que continuou sem resposta até ao passado sábado era como é que a gestora francesa soube que o grupo parlamentar do PS ia promover essa reunião. Ora, ela soube, porque João Galamba sugeriu-lhe que participasse no encontro, como o próprio adiantou em conferência de Imprensa no passado sábado. "Eu disse: olhe, tenho um pedido do grupo parlamentar [do PS] para uma reunião preparatória. Não faz muito sentido que eu vá à reunião preparatória, porque não sou eu que vou falar da TAP. Portanto, se quiser participar, já tive informação de que havia interesse em falar consigo, se quiser participar, pode participar", contou o ministro. Acresce que, nessa reunião, foram preparadas sete perguntas e sete respostas para a audição do dia seguinte.
Nomeação polémica para a ERSE
Galamba voltou a estar nas notícias, em novembro do ano passado, por causa da nomeação polémica de Ricardo Loureiro, antigo colaborador do atual ministro quando liderou a Secretaria de Estado da Energia, para o cargo de vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). A politização do regulador foi criticada pela Oposição.
Gatilho rápido no Twitter
O socialista goza da fama de ter um gatilho rápido no Twitter, tendo acumulado, ao longo dos anos, um historial de post infames, geralmente em resposta a outros utilizadores da rede social. Foi assim quando, em maio de 2021, acabou por classificar o programa de investigação da RTP "Sexta às 9" como "estrume" e "coisa asquerosa", na sequência de notícias sobre a exploração de lítio em Montalegre e de um tweet do utilizador SoundPeaks, que escrevera: "Todas as semanas abro uma garrafinha do @Joaogalamba e sento-me a ver o estrume por ele produzido", aludindo ao programa televisivo. A direção da RTP repudiou as declarações do governante, então ainda era secretário de Estado, que apagou o comentário. Cerca de um ano depois, voltou a dar nas vistas com a divulgação de mensagens privadas insultuosas que trocou com outro utilizador do Twitter, que defendia uma política pró-Rússia e criticava o posicionamento da União Europeia.
Concessão da exploração de lítio em Montalegre
Foi um dos dossiês difíceis que abraçou ao assumir a pasta da energia no Ministério do Ambiente. A atribuição da concessão da exploração de lítio em Montalegre a uma empresa constituída três dias antes do contrato foi criticada pela Oposição, em outubro de 2019. À data, o secretário de Estado sublinhou que apenas cumpriu a lei e que o Governo anterior do PSD/CDS já tinha concedido direitos à Lusorecursos. "Nos termos da lei, a titular dos direitos de prospeção e pesquisa, Lusorecursos, Lda, pode indicar outra empresa, constituída ou a constituir, para a outorga do contrato de concessão, não impondo a lei qualquer limite mínimo ao montante do capital social da futura concessionária", explicou então.
Investigação do Ministério Público por negócio de hidrogénio
João Galamba e Pedro Siza Vieira foram notícia em 2020 (à data, eram ambos governantes no Governo de António Costa), quando se soube que o Ministério Público estaria a investigar "indícios de tráfico de influências e de corrupção" por suspeita de favorecimento do consórcio EDP, Galp e REN no projeto de hidrogénio verde para Sines. Galamba nunca foi ouvido no Ministério Público e refutou as acusações, tendo apresentado uma queixa-crime contra uma denúncia que considerou "caluniosa".