Um pavilhão a rebentar pelas costuras, cânticos de apoio gritados a plenos pulmões, bandeiras e mais bandeiras, punhos erguidos com todo o fervor. Foi assim que Jerónimo de Sousa foi recebido este sábado, na Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, em Almada. Naquele que foi, até agora, o comício mais concorrido da campanha, o secretário-geral do PCP disse não estar preocupado com as sondagens.
Corpo do artigo
À porta do edifício, Jerónimo de Sousa esperou pelo cortejo de centenas de apoiantes que, com os candidatos da CDU ao distrito de Setúbal, desfilaram cerca de um quilómetro e meio até chegar ao local do comício. O lema "A CDU avança, com toda a confiança" irrompeu pelo pavilhão esgotado, onde as cadeiras existentes não foram suficientes para as centenas que queriam ouvir o líder comunista.
Animado com a plateia, que aproveitou cada oportunidade para gritar pela CDU, o secretário-geral do partido deixou uma palavra "aos que dizem que o PCP é uma mera força de protesto". "Quando viram, passados estes quatro anos, que essa força de que falavam não existe, mas sim uma força de construção, de avanço, de reposição e conquista de direitos, alto e para o baile, que afinal as coisas são diferentes", sublinhou, aplaudido pelos apoiantes.
O líder comunista reforçou o papel da CDU na luta pelos trabalhadores e pelo povo, e até citou Karl Marx. "Uma revolução, um processo democrático não se desenvolve com um exército de pobres e de miseráveis", afirmou, rejeitando a ideia de que o PCP foi "domesticado" ou "cedeu ao Partido Socialista".
Jerónimo de Sousa desvalorizou as sondagens divulgadas, que colocam a CDU abaixo dos 7%, e garantiu que na última semana de campanha eleitoral há ainda muito trabalho para fazer. "Muitas vezes alguns vêm-me dizer: 'Vocês estão um bocado apertados porque isto das sondagens não estão muito boas'. Não sei quais são as sondagens a que se referem, há tantas, umas boas e outras más, mas de qualquer forma hoje podemos dizer: fiem-se nas sondagens e deixem-nos trabalhar e avançar e vão ver a surpresa que terão na noite das eleições", atirou.
Ritmos africanos e a cachupa no Vale da Amoreira
A música tem sido uma constante na campanha eleitoral da CDU. Durante o dia de sábado, dedicado a Setúbal, distrito que elegeu quatro deputados da coligação nas eleições legislativas de 2015, o ritmo invadiu as diferentes passagens da caravana.
Depois do estilo clássico ouvido durante o ensaio da orquestra da Sociedade Filarmónica Humanitária de Palmela, durante a manhã, foram os sons africanos e brasileiros que encheram de cor e entusiasmo o Vale da Amoreira, no almoço convívio com comunidades imigrantes.
Há lugar para todos no jardim atrás do centro de saúde. Em fila indiana, os convidados esperam a vez para receber a refeição preparada para a iniciativa: uma cachupa cabo verdiana. Em frente à mesa de Jerónimo de Sousa, a banda "Os Improváveis" anima o momento com um forró. O vocalista, Francisco Dantas, é brasileiro e está em Portugal há pouco mais de um ano.
Cruzou o Atlântico para fugir da instabilidade e insegurança e encontrou no Vale da Amoreira um porto seguro. "Não tinha boas informações deste lugar e cheguei aqui meio receoso. Depois percebi que não havia motivos para isso e até fico meio indignado quando falam mal do Vale", explicou ao JN.
Em Natal, era gestor de políticas públicas. Em Portugal, já lavou carros e trabalhou num talho. Encontrou apoio nas associações de comunidades imigrantes e está agradecido. Escreveu uma música em homenagem ao local que o acolheu.
Francisco Dantas é um dos 40 mil imigrantes residentes no distrito de Setúbal e veio ouvir as propostas da CDU. Depois do funaná da banda "Raíz Tropical do Vale", Jerónimo de Sousa dirigiu-se aos presentes e condenou o racismo, a xenofobia e a discriminação.
"Os imigrantes não são um peso para a sociedade portuguesa", afirmou o secretário-geral do PCP, lembrando que é preciso simplificar a burocracia para legalizar as pessoas que procuram Portugal para viver.