Uma equipa de 30 investigadores internacionais, onde se incluem dois portugueses, compilou uma lista de 15 ameaças à biodiversidade marinha e costeira nos próximos 5 a 10 anos. Abordam assuntos como a extração de lítio do fundo do mar, a sobrepesca de espécies de águas profundas e o impacto que os incêndios florestais poderão ter nos oceanos.
O estudo contou com a participação portuguesa de Maria Peixe Dias, professora do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, e de Ricardo Calado, atualmente investigador no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e na Universidade de Aveiro.
A investigação concluiu que os incêndios florestais vivenciados em Portugal, Brasil, Austrália e Rússia desde 2017 levaram à transferências de materiais e substâncias anormais para os oceanos , originando perturbações em determinados ecossistemas e levando à morte de determinadas espécies marinhas. Mas também a que o conteúdo nutricional do peixe consumido pelos humanos tenha sofrido significativas alterações, baixando o seu conteúdo de ácidos gordos.
O estudo nota ainda que o crescimento do mercado de automóveis elétricos irá estimular a produção de baterias, das quais o lítio é um componente fundamental. Estima-se que a procura de lítio até 2030 será cinco vezes superior à atual e os fundos marinhos serão dos ecossistemas mais afetados por este aumento.
As espécies que são conhecidas no fundo dos oceanos correspondem a uma percentagem muito pequena daquilo que se julga existir realmente e a ameaça da exploração de lítio pode comprometer essa investigação, alertam os investigadores. Mas esta não é a única ameaça humana direta à biodiversidade.
O comércio de espécies marinhas raras é um negócio em expansão e extremamente lucrativo, denunciam. A venda de barbatanas de tubarão ou pepinos do mar são já bastante conhecidas. No entanto, outras espécies menos conhecidas ganham peso no comércio internacional. É o caso do totoaba, um peixe típico do Golfo da Califórnia, extremamente popular no consumo alimentar chinês e que é cada vez mais raro devido à pesca intensiva.
De acordo com Maria Peixe Dias, citada no comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa, este estudo resultou da "consulta prévia de 680 especialistas e outros profissionais ligados ao meio marinho, em todo o mundo". A investigadora portuguesa afirma ainda que espera que "os resultados despertem a atenção de financiadores e de decisores políticos, para trazer para a agenda da conservação marinha os assuntos que ainda só se vislumbram no horizonte - e evitar que estes se tornem problemas."
"A global horizon scan of issues impacting marine and coastal biodiversity conservation" foi publicado no passado dia 7 de julho na revista Nature Ecology and Evolution.