As benzodiazepinas, que são fármacos para aliviar a ansiedade e promover o sono, foram detetadas em mais de metade das overdoses em Portugal. A conclusão é do relatório europeu sobre drogas de 2023, apresentado esta sexta-feira, que coloca Portugal como um dos países com maiores percentagens daqueles fármacos em pessoas que morreram devido ao consumo de drogas.
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A proporção de mortes por overdose que envolveu benzodiazepinas "aumentou em diversos países" e a substância "estava presente em mais de metade das mortes por overdose na Dinamarca, Áustria, Portugal e Finlândia". A conclusão é do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, responsável pelo relatório divulgado esta sexta-feira em Bruxelas, que sublinha que este tipo de fármacos "pode ter consequências significativas para a saúde, especialmente quando consumidas em combinação com outras drogas".
As benzodiazepinas "são frequentemente baratas", surgem "misturadas com drogas ilícitas" e espoletam "reações de saúde sérias e comportamentos anormais", avisam os autores do relatório. Um exemplo da complexidade que existe nesta área do mercado ilegal de estupefacientes vem da Estónia, onde "apreensões recentes encontraram novos opiáceos sintéticos misturados com bromazolam, uma nova benzodiazepina", assinalam.
Em Portugal, a deteção desta substância em overdoses está a aumentar. Em 2019, estes fármacos foram encontrados em cerca de metade das mortes por excesso de droga. Em 2020 baixou para pouco mais de 40%. Em 2021, o ano analisado pelo observatório, chegou a 58%. Este número só é superado pela Finlândia (62%), Áustria (67%) e Dinamarca (71%).
Heroína é a que mais mata
A principal substância consumida pelos cidadãos que morreram por overdose em Portugal foi a heroína. Um terço das mortes deveu-se a esta droga que, juntamente com a cocaína, continua a ser a droga mais consumida nas salas de consumo de Lisboa e Porto. Os dados recolhidos pelo observatório nestas salas de consumo indicam que a cocaína-crack, misturada ou não com heroína, "é responsável por uma proporção significativa dos episódios de consumo facilitado de droga".
Tanto em Lisboa como no Porto, em "metade dos consumos de cocaína-crack a substância foi fumada, enquanto a outra metade injetou-a, sozinha ou com heroína". Recorde-se que a versão de 2022 do mesmo relatório apontava Portugal como um dos países em que o consumo de cocaína-crack mais aumentou.
Desta vez, Portugal surge entre os principais países com maiores níveis identificados de outra droga, a cetamina, também conhecida por quetamina ou ketamina. "Em 2022, as águas residuais municipais apresentaram globalmente níveis baixos de cetamina em 15 países, com as maiores porções detetadas em cidades da Dinamarca, Espanha, Itália e Portugal". As cidades de Copenhaga, Barcelona, Milão e Lisboa foram, respetivamente, as que apresentaram maiores níveis.
Comissária "preocupada"
A nível europeu, o relatório conclui que a disponibilidade de drogas continua a ser elevada em todos os tipos de substâncias e a escala e complexidade da produção de drogas ilícitas na Europa continua a aumentar. A Comissária Europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, mostra-se "preocupada com o facto de as substâncias consumidas atualmente na Europa poderem ser ainda mais prejudiciais para a saúde do que no passado".
Por sua vez, Alexis Goosdeel, diretor do Observatório, destaca que "as drogas ilícitas tradicionais estão agora amplamente acessíveis e continuam a surgir novas substâncias potentes". Assim, é necessário "investir mais em serviços" porque estes "são agora chamados a responder a necessidades mais diversificadas e complexas", conclui.